segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Santos, terra da disparidade

Pois tudo o que se tem dito neste blog há quase quatro anos se confirma com números oficiais: a verticalização tornou Santos mais cara, enquanto o número de moradias em áreas de favela cresceu.

As conclusões estão em duas reportagens da colega Alcione Herzog, nas edições de sábado (20) e desta segunda-feira (22) do jornal 'A Tribuna':

1. Santos é o segundo município do Estado em proporção de domicílios de classe alta (57,60% do toal). Perde apenas para São Caetano do Sul, no ABC (62,79%). Na Baixada Santista, nenhum outro atinge um terço. O dado é da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), com base no Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);

2. Entre 2000 e 2010, a população santista aumentou 0,3%. Nas favelas, explodiu 79,5%. São 10.767 moradias encravadas em morros, mangues e à beira de rios na cidade. Eram 5.998 dez anos antes. E não se contam as residências em cortiços. Os dados são do IBGE, na comparação dos censos.

Duas explicações:

a) Domicílio de classe alta, segundo o IBGE, é aquele onde a renda por pessoa é superior a R$ 914,00. Talvez o instituto devesse rever parcialmente esse conceito, com base no custo de vida de cada região: uma família com quatro pessoas cuja renda total é de R$ 3.656,00 ganha bem no Vale do Ribeira; em Santos, esse dinheiro vale menos. Por isso, para muitos, restou deixar a cidade;

b) A política de congelamento de favelas e erradicação de cortiços falhou em Santos. Olhando a tabela que está no jornal, nota-se que o maior crescimento de população, por bairro, foi no Morro Santa Maria. Entre esse morro e o da Caneleira, está a favela do Tetéu, onde, na semana passada, prenderam um cidadão do Rio de Janeiro que estaria ensinando traficantes a usar armas pesadas.

E os governos, o que farão? Leia o que diz o release (informe à imprensa) da Fundação Seade ao anunciar que, no Estado, predominam os domicílios de classe média:

"Embora em termos absolutos o total de domicílios pobres ou vulneráveis continue muito importante (2,1 milhões de domicílios), o atendimento das necessidades desse grupo não pode ser o principal critério a orientar o conjunto das políticas públicas, diferentemente do que ocorre em outras regiões do país, como no Nordeste".

Na minha leitura, os "pobres ou vulneráveis" ficarão ainda mais em segundo plano, em São Paulo. O prefeito eleito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), é do partido do Governo Estadual. Que ele tome cuidado com certas conclusões de órgãos oficiais.

Um comentário:

Matheus Yanagiura disse...

PSDB e "atendimento das necessidades de domicílios pobres ou vulneráveis" na mesma frase? faz me rir hehehe

Não dá pra tirar muitas conclusões considerando que nem começou o mandato, mas não boto nenhuma fé de que isso vá se reverter... esperemos que esses índices (que refletem a qualidade de vida de PESSOAS, e não de números) ao menos não piorem...