segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Procura-se um vidraceiro

Negar o que existe é uma forma preguiçosa de deixar os problemas transcorrerem sozinhos. Assim acontece na atual crise financeira.


Apesar de os efeitos da quebradeira internacional não terem atingido o País com a mesma gravidade verificada em grandes economias do exterior, parte dos responsáveis por achar saídas caseiras ao problema prefere fugir deles a dar respostas ao público.


Enquanto repórter, tenho passado por isso. Meu mais recente exemplo pessoal é o de uma matéria que sugeri, relativa à queda nos repasses, às nove prefeituras da Baixada Santista, das cotas de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), espécie de termômetro da atividade econômica.


Na comparação com janeiro deste ano e o mesmo mês do ano passado, houve queda de R$ 6,1 milhões nas transferências do ICMS. Por duas semanas, tentei conseguir uma explicação clara e convincente da Secretaria Estadual da Fazenda.


Sem sucesso. A reportagem saiu assim mesmo. Para mim — e peço desculpas pelo chavão —, um silêncio ensurdecedor, que tanto pode mostrar desprezo pela questão quanto incerteza quanto ao rumo a ser tomado neste momento crítico para a economia.


Em nível local, um auxiliar direto de um prefeito da região tentou desqualificar minha dúvida, sobre o que fará a Prefeitura diante do corte nas remessas de ICMS. Usou frases como “janeiro não reflete janeiro”, “a economia brasileira está bem preparada”, “o Governo Federal está trabalhando”, na tentativa de me convencer de que está tudo bem.


Eu também estou bem, mas, de repente, posso me resfriar. Se não tomar remédios, o resfriado se tornará gripe. Pneumonia. Dificuldades respiratórias. Morte.


No meio policial, há a Teoria da Janela Quebrada, segundo a qual o abandono de um bem pressupõe ausência de autoridade. Parece aplicável, por exemplo, à economia. Aliás, a qualquer coisa.


Negar a existência de uma rachadura num vidro trincado exige troca de óculos — ou do vidraceiro. Senão, a continuar assim, como salvar o prédio e seus moradores?

3 comentários:

Andrea Rifer disse...

Vc é um fenômeno mesmo! Cada vez que entro aqui, encontro um assunto sério, bem analisado e comentado.

Tata disse...

Olha, tu tb por aqui... leia meu primeiro post. Acho que você vai se lembrar dessa história. risos.
Um beijo

Tata disse...

Ah... o endereço é http://blogdathaislyra.blogspot.com