segunda-feira, 2 de março de 2009

Diga, sim!

Domingo à tarde. Programa Sílvio Santos. Pais e filhos participam de uma gincana sobre conhecimentos gerais.


— Qual é a profissão do seu pai? — pergunta o apresentador.


— Ah, é melhor nem falar... — responde, encabulada, a menina.


Traficante? Cafetão? Bicheiro? Matador de aluguel? O que, afinal, o pai da garota faz da vida?


— Sou policial — revela o pai, num sussurro.


Lembrei-me na hora dos dois ataques do PCC, em maio e julho de 2006. Sim, daquela “facção criminosa que age de dentro dos presídios de São Paulo”, como diziam alguns veículos de comunicação, na época.


(Como se omitir o nome aliviasse o problema; assim fosse, chamaríamos cocaína de “pó branco comercializado ilegalmente que entorpece, causa alucinações e, inalado em excesso, pode matar por overdose, ou superdosagem”, e estaria acabado o tráfico de drogas).


Sinceramente, me entristeceu ver tal entendimento do mundo por uma criança de 8 ou 9 anos. Pai é super-herói. Mas, no meu tempo (a geração imediatamente anterior à atual), um dos maiores era o pai policial. Forte, valente, invencível. Hoje, nas brincadeiras de polícia e ladrão, luta-se para decidir quem será o bandido. Forte, valente, invencível.


Compreende-se. Na infância, a gente torce para quem ganha, só para não ter o desgosto da derrota. O problema é crescer assim, nessa desordem de conceitos que, lá na frente, elimina o exame de consciência.


Antes, havia a lei e o crime. Hoje, ao que parece, o crime é a lei.

5 comentários:

Anônimo disse...

Melhor isso, Rafa, do que o Silvio Santos, nesse mesmo programa, pergunta para as crianças: Se seu pai fosse travesti, quem ele seria?

Isabelita dos Patins
Nany People
Roberta Close

Não é mentira, não..

kkkkkkkkkkkkkk

bjs

Thaís
(http://blogdathaislyra.blogspot.com)

Anônimo disse...

Parabéns, Rafa, pelo blog. Aparecerei mais vezes por aqui.
Abraço

Andrea Rifer disse...

É Rafa, os tempos mudaram.
Andrea Rifer

Anônimo disse...

Rafael, lembra de mim? Estudei com você no último ano da faculdade, sou amiga do Fabrício.
Sempre me sinto realizada com suas matérias, tão bem elaboradas, mas a de sábado, sobre os efeitos da ditadura em Santos estava maravilhosa! Parabéns e obrigada por nos dar tantas informações legais.
Abraço
Carmem Sanches

Rafael Motta disse...

Oi, Carmem. Continua em Praia Grande? Faz tempo que não vejo a Gazeta. Um abraço ao pessoal. Obrigado pela visita.