domingo, 21 de junho de 2009

Dá para gostar de Cubatão


Nem tanto à indústria, nem tanto ao guará-vermelho. Cubatão, que já foi o lugar mais poluído do mundo, terra de recém-nascidos sem cérebro e da trágica explosão de um duto da Petrobras na extinta Vila Socó, continua longe de ser um paraíso terrestre.


A cidade, porém, já não é mais o que se dizia dela até em letras de música. Como esta, da qual segue um trecho cantado em 1985 pela banda Premê (antes chamada Premeditando o Breque; já tinha ouvido falar desse grupo?), intitulada Lua-de-Mel em Cubatão:


Querida, enfim, encontramos um pedaço do céu na Terra

Do jeito que a gente sempre sonhou

Aqui o ar realmente existe, dá até pra pegar

Ai, o verde, as árvores são verdes, o rio é verde

O céu, a terra, o sol, as borboletas

As pessoas, tudo verde

E você nessa paisagem fica tão linda

Venha cá, me dê um beijo

Tire a máscara e me dê um beijo


Nessa regeneração pela qual vem passando, Cubatão é até agradável. Longe do Polo Industrial, claro: apesar da redução drástica na emissão de poluentes, a fumaça e o vapor que emanam das chaminés são um tenebroso lembrete das desgraças do passado.


Mas, nas redondezas da região central (dinâmica e menos irritante do que o Centro de Santos, aos poucos transformado num inferno, por causa do trânsito), ruas arborizadas, prédios residenciais que não passam dos três andares (o único acima disso, o Edifício Castro, é alvo de uma confusão judicial entre Prefeitura e proprietários), praças e parques compõem um cenário interessante. Dá para dizer que não seria ruim morar lá.


Exagero? Não. Mais uma vez falando em Santos, poucos imaginariam que essa cidade, hoje de terrenos valorizadíssimos e cada vez mais cara para se viver, já foi um porto maldito, de lama e peste, assim relatada em 1888 por Júlio Ribeiro, escritor, autor do romance A Carne:


“A vida aqui é uma negação da fisiologia, é um verdadeiro milagre: não há hematose perfeita, as digestões são laboriosíssimas, sua-se como no segundo grau da tísica pulmonar, como na convalescença de febres intermitentes. Eu, se fosse condenado a degredo em Santos, já não digo por toda a vida, mas por um ano ou dois, suicidava-me”.


Ribeiro, defensor do fim da escravidão no Brasil e criador da bandeira do Estado de São Paulo, morreu em 1890. De tuberculose. Em Santos. Em 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, data que, possivelmente, dá origem ao nome do município.


Para terminar a conversa sobre Cubatão — onde ficarei até o fim do mês ou o começo de julho cobrindo as férias do colega Thiago Macedo em A Tribuna —, se alguém, um dia, assegurar moradia digna aos mais de 50% de favelados entre os 122 mil moradores, será uma boa cidade, caso a parte urbana permaneça livre da especulação imobiliária. Um recanto de relativa paz. O Interior ali na esquina.


5 comentários:

Blog do NAKA disse...

Que coincidência Rafa!!!
Escrevi sobre Cubatão também no meu blog. Dá uma olhada!!!

nakajornalista.blogspot.com

Anônimo disse...

Olá Rafa
O nome correto da música do Premê é Lua de mel em Cubatão
Ou seja: a cidade é citada tb no titulo da canção

Rafael Motta disse...

Corrigido, Anônimo!

Flávia Saad disse...

Rafa
não vai ficar em Cubatão para sempre, hein?? Gostou da cidade né...
Vc faz falta aqui!!
Abraços
Flávia Saad

Rafael Motta disse...

Tuesday... E escreveu na terça-feira! Abraço, Flávia.