Nem tanto à indústria, nem tanto ao guará-vermelho. Cubatão, que já foi o lugar mais poluído do mundo, terra de recém-nascidos sem cérebro e da trágica explosão de um duto da Petrobras na extinta Vila Socó, continua longe de ser um paraíso terrestre.
A cidade, porém, já não é mais o que se dizia dela até em letras de música. Como esta, da qual segue um trecho cantado em 1985 pela banda Premê (antes chamada Premeditando o Breque; já tinha ouvido falar desse grupo?), intitulada Lua-de-Mel em Cubatão:
Querida, enfim, encontramos um pedaço do céu na Terra
Do jeito que a gente sempre sonhou
Aqui o ar realmente existe, dá até pra pegar
Ai, o verde, as árvores são verdes, o rio é verde
O céu, a terra, o sol, as borboletas
As pessoas, tudo verde
E você nessa paisagem fica tão linda
Venha cá, me dê um beijo
Tire a máscara e me dê um beijo
Nessa regeneração pela qual vem passando, Cubatão é até agradável. Longe do Polo Industrial, claro: apesar da redução drástica na emissão de poluentes, a fumaça e o vapor que emanam das chaminés são um tenebroso lembrete das desgraças do passado.
Mas, nas redondezas da região central (dinâmica e menos irritante do que o Centro de Santos, aos poucos transformado num inferno, por causa do trânsito), ruas arborizadas, prédios residenciais que não passam dos três andares (o único acima disso, o Edifício Castro, é alvo de uma confusão judicial entre Prefeitura e proprietários), praças e parques compõem um cenário interessante. Dá para dizer que não seria ruim morar lá.
Exagero? Não. Mais uma vez falando em Santos, poucos imaginariam que essa cidade, hoje de terrenos valorizadíssimos e cada vez mais cara para se viver, já foi um porto maldito, de lama e peste, assim relatada em 1888 por Júlio Ribeiro, escritor, autor do romance A Carne:
“A vida aqui é uma negação da fisiologia, é um verdadeiro milagre: não há hematose perfeita, as digestões são laboriosíssimas, sua-se como no segundo grau da tísica pulmonar, como na convalescença de febres intermitentes. Eu, se fosse condenado a degredo em Santos, já não digo por toda a vida, mas por um ano ou dois, suicidava-me”.
Ribeiro, defensor do fim da escravidão no Brasil e criador da bandeira do Estado de São Paulo, morreu em 1890. De tuberculose.
Para terminar a conversa sobre Cubatão — onde ficarei até o fim do mês ou o começo de julho cobrindo as férias do colega Thiago Macedo
5 comentários:
Que coincidência Rafa!!!
Escrevi sobre Cubatão também no meu blog. Dá uma olhada!!!
nakajornalista.blogspot.com
Olá Rafa
O nome correto da música do Premê é Lua de mel em Cubatão
Ou seja: a cidade é citada tb no titulo da canção
Corrigido, Anônimo!
Rafa
não vai ficar em Cubatão para sempre, hein?? Gostou da cidade né...
Vc faz falta aqui!!
Abraços
Flávia Saad
Tuesday... E escreveu na terça-feira! Abraço, Flávia.
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