Tivesse eu o poder de decidir as manchetes dos jornais locais (felizmente, não, pois seria absolutismo), o destaque principal de hoje seria a matéria publicada na página A-12 do jornal 'A Tribuna', intitulada "Notas de alunos da Baixada ficam abaixo da média estadual".
A notícia é a de que, no ano passado, os alunos da Baixada Santista obtiveram índice inferior ao paulista no Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp).
Em 2010, mediram-se os conhecimentos de estudantes do 5º e do 9º ano do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio em Português, Matemática e Ciências.
Se a média estadual foi um desastre (2,52 no 9º ano, numa escala de zero a dez), as regionais mostraram-se ainda piores: 2,34 na Diretoria de Ensino de São Vicente (que abrange, também, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe) e 2,23 na de Santos (da qual também fazem parte Bertioga, Cubatão e Guarujá).
No Ensino Médio, etapa anterior à faculdade, estamos 'melhor': 1,82 em Santos, contra... 1,81 do Estado. Em São Vicente, 1,60. Porém, no 5º ano, a média estadual é 3,96, ante 4,09 em São Vicente e 2,94 em Santos. Repito: a escala vai até dez.
Ora, mas já se sabe faz tempo que a escola pública é deficiente. Por que manchetar isso, se não é novidade?
Simples: para chamar a atenção do máximo possível de pessoas ao perigo (pois creio que o termo seja esse, mesmo) de que a esperada riqueza com a exploração de gás e petróleo da camada pré-sal na Bacia de Santos e a ampliação das operações do Porto de Santos poderá não ficar aqui.
Duas coisas, pelo menos, trazem o risco de que o futuro não passe de uma miragem para nós. Uma, a adaptação da infraestrutura de tráfego, serviços e moradia na Baixada ao esperado crescimento da população, com gente atraída por bons empregos; outra, o baixo nível educacional dos que frequentam as escolas públicas locais, uma dura barreira que se está longe de transpor.
Outro indicador já apontava para o temor de uma desgraça: o Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) 2010, aferido com dados de 2008. Caso você tenha tempo e paciência para ler a matéria e os gráficos ao lado (clique na imagem para ampliar a página, publicada em 20 de março último), entenderá que o Saresp e o IPRS se relacionam.
Em tempo: baixo nível educacional abre margem para o surgimento de ditaduras. Nessas épocas, alguém mais 'esperto' decide as manchetes -- para nos enganar e abafar nossa voz.
Um comentário:
No aspecto jornalístico, falta de vagas p/ estacionar também não é novidade. Mas, mercadologicamente, é um tema mais interessante ao leitor, que vota no PSDB mas não põe filho em escola pública. É a lógica de AT. Infelizmente.
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