Nesta breve solidão antes do plantão de domingo no jornal, me lembrei desta foto, que fiz outro dia, numa das esquinas da rua onde moro:
Será, ali, mais um enorme edifício residencial. Vai reduzir ainda mais o pouco que me resta da visão do céu e do morro, a partir de minha janela. Na direção dela, está quase pronto outro prédio com uns 20 andares. Diante dele, logo começará a construção de outro.
Mas o câncer não é uma doença repentina. Tem elementos que o provocam e outros que colaboram para se espalhar por outras partes do corpo. Se os edifícios gigantes são o câncer que acomete Santos há alguns anos, e o aumento dos preços dos imóveis é a sua metástase, quem causou a doença?
"A classe política, que deu aos construtores brechas nas leis para fazer tudo isso", você talvez responderá.
Mas você e eu, também provavelmente, somos elementos cancerígenos. Cobramos dos outros que acompanhem os passos de prefeitos e vereadores, mas não reservamos tempo algum para ir às sessões da Câmara, ler o noticiário, saber como votam aqueles que deveriam nos representar.
Outro fator é a mistura de covardia e oportunismo de inúmeros cidadãos filiados a partidos políticos. Isso se atesta nos resultados das convenções das últimas duas semanas. Dos nove candidatos à Prefeitura, só dois são inéditos. Um, governista. Mas o outro talvez não vencesse nem se fosse concorrente único.
Ao confirmar os mesmos de quase sempre, os filiados a agremiações mostram não ter a mínima preocupação de discutir a cidade. Por conveniência e omissão, aceitam que os partidos sejam dominados por feudos. Parte desses filiados o faz na esperança de "trabalhar" em cargos de confiança, com boa remuneração em troca de esforço geralmente mínimo.
Esta é uma cidade doente. Uma sociedade doente. Não foi ao médico, não toma remédio, não vai à radioterapia. Mas não morrerá. Caso permaneça descuidada, estará condenada a uma permanente agonia.
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