quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Pelo direito de continuar santista

O que é Santos hoje?

Na parte insular, uma cidade praticamente pronta, onde não há muito o que fazer. Os poucos espaços que restam estão sendo quase que completamente tomados por prédios gigantes, liberados após revisões nas leis que indicam como o chão santista deve ser ocupado e apontam as diretrizes de desenvolvimento do município.

Nas áreas periféricas, outro mundo. Do Centro para a Zona Noroeste e dali para as zonas mais próximas de rios e mangues, cortiços, favelas, palafitas, inundações, deslizamentos esporádicos, tráfico de drogas, confrontos entre policiais e suspeitos, transporte coletivo deficiente. Em suma, menos oportunidades para a vida.

Em parte por causa das mudanças na legislação, a Santos-periferia ficou menor. Continuam morando na cidade os mais pobres, que não tiveram para onde ir. Não têm emprego e salário suficientemente decentes para bancar um aluguel onde quer que seja: só lhes resta a ocupação irregular de áreas cujos donos não estão nem aí para elas.

Esses bolsões de pobreza persistentes precisam de muito mais do que as outras áreas da Santos que já está pronta e vem sendo frequentemente maquiada. Porém, como a maioria do eleitorado está na Santos-desenvolvida, não demonstra preocupação com a solução dos problemas de seus vizinhos, tão santistas quanto eles, mas cuja voz se ignora deliberadamente.

É por isso que a campanha eleitoral deste ano, em Santos, parece não existir. Não há a vibração de oito, 16, 20 anos atrás. As pessoas parecem anestesiadas, submissas a uma estranha aura de pensamento único. Não discutem, não confrontam, não pensam. Só esperam a obrigação de apertar botões na urna eletrônica, reclamando por perder parte do domingo da eleição, e ir para casa.

Se o eleitorado está inerte, caberia a um prefeito e a vereadores conscientes dos males ainda existentes numa cidade tão modernizada revolucionar o que resta da triste realidade dela. E que não é assim tão pouco: há mais de 12 mil famílias, quase 50 mil pessoas, sem moradia digna em Santos, conforme levantamento feito na atual gestão pela Secretaria Municipal de Planejamento.

Mas o problema é depender de iniciativas do governo, qualquer que seja ele. Porque, eleito com força do poder econômico de fortes empresários, custeadores de suas campanhas e que, em troca, esperam ver seus interesses defendidos com firmeza, quem quer que governe Santos a partir de janeiro próximo talvez mude pouco o que se conhece.

Daí porque, lamentavelmente, pouco se pode esperar quanto à solução dos problemas da periferia. E, mesmo, de situações que incomodam quem vive na parte pronta da cidade – trânsito carregado, ônibus impontuais. Há quem veja sinais de desenvolvimento econômico nos arranha-céus e congestionamentos, como foi, de forma infantil e criminosa, com a poluição gerada pelas indústrias.

Numa região metropolitana ideal, a população das outras cidades se preocuparia com as eleições em Santos. As políticas de administrações santistas ajudaram a empurrar parte de seus moradores para municípios vizinhos, cujo número de habitantes cresceu muito além da infraestrutura disponível para sua presença.

Sei que é utopia de quem, tomado por uma indignação impotente, sonha acordado. Mas quem desse fim às mazelas mais urgentes de Santos e acolhesse, de verdade, a população mais carente, dando-lhe condições de exercer seu direito de continuar santista, mereceria minha eterna admiração.

2 comentários:

Nando disse...

Perdão pela franqueza, Rafa: ñ é o vencedor destas eleições q vai dar fim a essas mazelas. O governante reflete a imagem do eleitor. E a do santista é horrenda. Uma velha cheia de botóx, maquiagem, escova no cabelo, joias reluzentes. Impecável por fora, com os órgãos internos todos comprometidos, apodrecendo. Sentada no sofá com os olhos fixos na novela enquanto o mundo desaba lá fora. Ela ñ tem ouvidos pra utopias.

Rafael Motta disse...

O pior é que eu estou ciente disso tudo, Nando. E lá se vão mais quatro (ou oito) anos.