O que é
Santos hoje?
Na parte
insular, uma cidade praticamente pronta, onde não há muito o que
fazer. Os poucos espaços que restam estão sendo quase que
completamente tomados por prédios gigantes, liberados após revisões
nas leis que indicam como o chão santista deve ser ocupado e apontam
as diretrizes de desenvolvimento do município.
Nas áreas
periféricas, outro mundo. Do Centro para a Zona Noroeste e dali para
as zonas mais próximas de rios e mangues, cortiços, favelas,
palafitas, inundações, deslizamentos esporádicos, tráfico de
drogas, confrontos entre policiais e suspeitos, transporte coletivo
deficiente. Em suma, menos oportunidades para a vida.
Em parte
por causa das mudanças na legislação, a Santos-periferia ficou
menor. Continuam morando na cidade os mais pobres, que não tiveram
para onde ir. Não têm emprego e salário suficientemente decentes
para bancar um aluguel onde quer que seja: só lhes resta a ocupação
irregular de áreas cujos donos não estão nem aí para elas.
Esses
bolsões de pobreza persistentes precisam de muito mais do que as
outras áreas da Santos que já está pronta e vem sendo
frequentemente maquiada. Porém, como a maioria do eleitorado está
na Santos-desenvolvida, não demonstra preocupação com a solução
dos problemas de seus vizinhos, tão santistas quanto eles, mas cuja
voz se ignora deliberadamente.
É por
isso que a campanha eleitoral deste ano, em Santos, parece não
existir. Não há a vibração de oito, 16, 20 anos atrás. As
pessoas parecem anestesiadas, submissas a uma estranha aura de
pensamento único. Não discutem, não confrontam, não pensam. Só
esperam a obrigação de apertar botões na urna eletrônica,
reclamando por perder parte do domingo da eleição, e ir para casa.
Se o
eleitorado está inerte, caberia a um prefeito e a vereadores
conscientes dos males ainda existentes numa cidade tão modernizada
revolucionar o que resta da triste realidade dela. E que não é
assim tão pouco: há mais de 12 mil famílias, quase 50 mil pessoas,
sem moradia digna em Santos, conforme levantamento feito na atual
gestão pela Secretaria Municipal de Planejamento.
Mas o
problema é depender de iniciativas do governo, qualquer que seja
ele. Porque, eleito com força do poder econômico de fortes
empresários, custeadores de suas campanhas e que, em troca, esperam
ver seus interesses defendidos com firmeza, quem quer que governe
Santos a partir de janeiro próximo talvez mude pouco o que se
conhece.
Daí
porque, lamentavelmente, pouco se pode esperar quanto à solução
dos problemas da periferia. E, mesmo, de situações que incomodam
quem vive na parte pronta da cidade – trânsito carregado, ônibus
impontuais. Há quem veja sinais de desenvolvimento econômico nos
arranha-céus e congestionamentos, como foi, de forma infantil e
criminosa, com a poluição gerada pelas indústrias.
Numa
região metropolitana ideal, a população das outras cidades se
preocuparia com as eleições em Santos. As políticas de
administrações santistas ajudaram a empurrar parte de seus
moradores para municípios vizinhos, cujo número de habitantes
cresceu muito além da infraestrutura disponível para sua presença.
Sei que é
utopia de quem, tomado por uma indignação impotente, sonha
acordado. Mas quem desse fim às mazelas mais urgentes de Santos e
acolhesse, de verdade, a população mais carente, dando-lhe
condições de exercer seu direito de continuar santista, mereceria
minha eterna admiração.
2 comentários:
Perdão pela franqueza, Rafa: ñ é o vencedor destas eleições q vai dar fim a essas mazelas. O governante reflete a imagem do eleitor. E a do santista é horrenda. Uma velha cheia de botóx, maquiagem, escova no cabelo, joias reluzentes. Impecável por fora, com os órgãos internos todos comprometidos, apodrecendo. Sentada no sofá com os olhos fixos na novela enquanto o mundo desaba lá fora. Ela ñ tem ouvidos pra utopias.
O pior é que eu estou ciente disso tudo, Nando. E lá se vão mais quatro (ou oito) anos.
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