segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Mandato 'devolvido' após 44 anos

"As ditaduras são, às vezes, institucionalizadas, como a que vivemos. A atual Constituição, a manutenção dos atrabiliarismos [atos tomados com base na irritação] e violências praticadas, a legislação sufocante, os direitos humanos mais naturais suprimidos e o temor e as ameaças constantes de grupos militares, a prisão e [o] processamento de cidadãos por suas crenças ideológicas e suas opiniões, deixam patente o Governo totalitário, completo e manifesto, como fato irretorquível, que somente sofismas baratos e cínicos poderão contestar".

Este, o trecho de um discurso do então deputado federal Gastone Righi, em 4 de agosto de 1967, numa crítica ao regime instituído no País em 1964. Fez parte da ata que registra exposição de motivos que levaram à cassação de seu mandato, em 30 de dezembro de 1968, pelo Conselho de Segurança Nacional -- órgão composto pelo presidente da República e pelos ministros, tanto os civis quanto os militares.

Nesta quinta-feira (6/12), a Câmara dos Deputados devolverá seu mandato simbolicamente. Fará o mesmo com outros 18 ex-parlamentares ainda vivos, de 146 que tiveram sua vida pública interrompida pela ditadura. Righi é o único remanescente da Baixada Santista -- Marcelo Gato, cassado em 1976, morreu na semana passada.

Essa devolução não compensa o que aconteceu. Mas ajuda a mostrar o que houve, sempre na esperança de que não se repita o tempo no qual dizer a verdade era crime.

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