A cor da pele de Barack Hussein Obama parece ser o que mais chamou a atenção, em sua posse como presidente dos Estados Unidos, nação mais poderosa do planeta. “O primeiro negro” — como insiste a mídia internacional — a chegar ao cargo.
É como um copo que, por estar meio cheio, está meio vazio: se a eleição de Obama representa a possibilidade de oportunidades iguais para brancos e pretos, o fato de ainda se pensar que isso é “possível” denota o racismo que ainda vive e habita o homem.
Um racismo cujos termos se internacionalizaram. As “colored people” norte-americanas eram as mesmas “pessoas de cor” brasileiras, impedidas até de pisar as mesmas calçadas que as “white people” ou “pessoas brancas”. Isso faz duas ou três gerações, apenas.
Menos tempo ainda fazia na época
Tarqüínio foi o único negro a ser eleito prefeito de Santos. Longe — mais uma vez, nos Estados Unidos —, em abril daquele mesmo ano, fora assassinado Martin Luther King, também negro, que vivia o “sonho” de que só se distinguissem as pessoas pelo caráter.
A eleição não trouxe paz nem êxtase a Esmeraldo Tarqüínio. Após saber do resultado das urnas, concedeu entrevista ao extinto jornal Cidade de Santos (1967-1987), enquanto descansava em Campos do Jordão (SP).
— Acredita que encontrará alguma reação como prefeito de Santos, por ser um homem de cor? — perguntou-lhe o repórter Eymar Mascaro.
— Acredito, não. Tenho certeza de que ela já está existindo. Embora numa faixa minoritária da sociedade, numericamente pouco expressiva, mas econômica e socialmente poderosa. Como, porém, este país vive proclamando ao mundo sua alegada condição de democracia racial única, espero poder ajudar o Brasil a confirmar a alegação — respondeu o prefeito eleito.
Prefeito eleito e não empossado. Em 13 de março de 1969, às vésperas de assumir o Palácio José Bonifácio, teve os direitos políticos cassados, por dez anos, pelo regime militar. O vice, Oswaldo Justo, se recusou a tomar posse. E, em setembro, Santos foi impedida de escolher seus prefeitos, numa proibição que durou até 1984.
Esmeraldo voltaria. Em 1982, com os direitos restabelecidos, concorreu à Assembleia Legislativa. Tinha a eleição dada como certa. Mas, a cinco dias do pleito, não resistiu a um aneurisma cerebral. Morto aos 55 anos, foi alçado ao condicional: o que teria sido de Santos caso se tornasse deputado e, depois, prefeito?
Oswaldo Justo, o vice de Tarqüínio, disputou a Prefeitura em 1984. Venceu. Esmeraldo Tarqüínio Neto, filho do prefeito eleito cassado, tornou-se vice de Justo. Não foi a mesma coisa que, talvez, tivesse sido.
Até hoje, Santos não tem negros na política, seja com mandato ou potencial de vitória. Política e socialmente, não transformou em realidade o “sonho” de Luther King. Ainda sente necessidade de uma Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial e Étnica, como de fato existe, para fazê-lo.
E na cidade, como em todo lugar, a “faixa minoritária da sociedade, numericamente pouco expressiva”, segue “econômica e socialmente poderosa”.
3 comentários:
Belo paralelo, excelente leitura ou releitura da história!
"Até hoje, Santos não tem negros na política, seja com mandato ou potencial de vitória."
Acho interessante esse comentário q. se repete p/ justificar instâncias políticas que na realidade dividem as pessoas ao invés de igualar .Entendo q. se não há negros na política , é porque não se candidataram .Em algum momento houve impedimento de qqr candidatura por motivo de raça , cor , sexo ? Tarquinio foi eleito porq. era um gde líder .Foi cassado como tantos outros de todas as cores , porq. simplesmente o Poder do momento fazia essa leitura de que esses homens eram prejudiciais ao País .Os grandes líderes e suas famílias sp sofrem muito , e tb qqr pessoa q. abrace uma causa q. não esteja muito digerida em uma sociedade.Luther King , Kennedy , Tiradentes ...cada um teve a vida interrompida pela ignorância , pela falta de visão e democracia de quem matou ou colaborou para a morte .Se as sociedades lembrassem que todos somos originados de 02 células e terminamos em pó , independente de raça ou cor , e que as diderenças estão no meio , criadas pelas sociedades e culturas diversas , talvez conseguíssemos unir ao invés de dividir .
Iza
Clareza dos fatos, sobriedade. O Rafael de sempre...
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