A Baixada Santista se tornou uma região excludente. O aumento no custo de vida e a valorização imobiliária, sobretudo em Santos, expulsam cada vez mais moradores para a periferia das cidades ou para municípios vizinhos.
Já não é tão recente a notícia de que cerca de 1.100 famílias residentes em favelas da Zona Noroeste santista poderão ter de se mudar para São Vicente. Algo como 4.500 pessoas (ou mais, pois muitas famílias dessa região têm bem mais de quatro membros) iriam para um conjunto habitacional planejado pela Companhia de Habitação Regional (Cohab) na Cidade Náutica, denominado Tancredo Neves.
Milhares de santistas, de nascimento ou por opção, estariam transferidos para casas melhores do que os barracos e palafitas que ocupam. Mas distantes de onde, sabe-se lá depois de quantas andanças, fixaram raízes, formaram família, têm parentes. Onde estudam e conseguiram seus empregos.
Que “progresso” é esse?
Alega a Prefeitura de Santos que é difícil encontrar áreas para habitação popular. De fato, o último grande terreno disponível perto daquelas famílias era o chamado Estradão, às margens da Avenida Nossa Senhora de Fátima, no Castelo.
A maioria do espaço, porém, foi comprada por uma construtora, que erguerá ali prédios com uns 2.500 apartamentos, no total — cinco vezes mais do que comportam os edifícios construídos pelo Governo do Estado na área.
E, nessa “falta de espaço” para certas famílias, que não têm como pagar meio salário mínimo como prestação de uma casa própria, elas vão sendo afastadas das regiões centrais. E veem suas dificuldades aumentarem, pois, até que o sistema de transporte coletivo intermunicipal se torne minimamente decente, lá se terá ido uma geração.
“Progresso” para quem?
Nestes tempos avançados, talvez pareça romântico dizer que este empurra-empurra de pessoas representa uma crise de identidade para os que são expulsos de uma cidade. Pode ser a última coisa em que eles pensem, mas nem por isso deixa de ser importante.
Afinal — e isso parece valer muito, por exemplo, para quem é de Santos e conhece os vultos históricos oriundos da terra, que às outras “ensinou” a “caridade” e a “liberdade” (*) —, há quem sinta orgulho em afirmar que nasceu e foi criado em determinada cidade. Falar no município de origem, a maior referência, leva à paz de espírito.
Contudo, é isso que se está negando àqueles que mais dependem da “caridade”: a “liberdade” de viver onde bem entenderem. Mais ainda se for no chão que os acolheu. Isso depõe contra o conceito de “cidadão metropolitano”, que os prefeitos da Baixada tanto evocam quando declaram ser necessárias ações regionais pelo... progresso.
É o “progresso” que queremos?
(*) “Patriam charitatem et libertatem docui”, ou “À Pátria ensinei a caridade e a liberdade”, lema inscrito no Brasão de Armas de Santos. Explica-se a “caridade” com a instalação, em 1543, da Santa Casa da Misericórdia de Todos os Santos, primeiro hospital da América Latina. E a “liberdade”, com a Proclamação da Independência do Brasil, da qual foi patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva, santista (1763-1838)
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