Num dia de semana qualquer de dezembro, eu andava pelo calçadão da orla, pouco depois do Canal 4, no sentido de quem vai à Ponta da Praia. Pouco adiante de mim, estava um senhor, com sacolas plásticas de compras nas duas mãos. Na direção contrária dele, três homens maltrapilhos, que deveriam ter, no máximo, uns 25 anos cada um. Maltrapilhos e alucinados — pareciam ter bebido. Um deles começa o breve diálogo:
— Ô, tio, vê aí cinco centavos?
— Ih, garoto, tô com as mãos ocupadas. Se pudesse...
— Num esquenta, tio. Valeu, aí...
Quando vi o trio se aproximando do velho, me coloquei numa posição curiosa. Andava pouco atrás dele, pensando em defendê-lo, em caso de necessidade (como se eu pudesse alguma coisa numa briga contra três, a menos que saísse correndo).
Como não foi preciso, fiquei aliviado. Mas o homem nem ligou. Até deu uma risadinha. Olhamos um para o outro. E ele desatou a falar:
— Foi por causa das sacolas, mesmo. Do contrário, eu dava as moedas. Assim, eles iam tomar umas pingas, encher a cara, cair por aí e não iam ficar enchendo. Mas é isso aí. Ficam falando que a vida das pessoas melhorou, que o Lula tá ajudando os pobres, dando Bolsa Família. Só que não pensam no coitado do aposentado. Quando eu me aposentei, ganhava oito salários mínimos. Hoje, não recebo nem a metade. E ainda dizem que a economia tá boa. Se tá boa, é graças ao Fernando Henrique, que estabilizou os preços, acabou com a inflação. Quando era oposição, o PT só criticava. Agora, não faz nada que falava que era pra fazer. É assim mesmo: a turma chega lá, aí não faz nada.
— Mas — consegui, afinal, balbuciar alguma coisa — o PSDB e o DEM, hoje, agem do mesmo jeito: para tentar voltar ao poder, criticam o que o PT faz hoje.
— É, é... — respondeu o velho, meio atordoado, como se ficasse sem ter o que argumentar — Mas a turma é toda igual. Só querem saber deles mesmos. Bom era no tempo do regime militar, que os caras eram duros e não deixavam acontecer essa malandragem. Ninguém andava na rua até tarde da noite, tinha mais segurança. Agora, é essa bagunça. Eu vou por ali — apontou, em direção à Rua Oswaldo Cóchrane, no Embaré. E arrematou:
— Eu sempre digo: se não tem ninguém pra encher o saco da gente, a vida não tem graça.
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