quinta-feira, 4 de março de 2010

Ponte para Guarujá: redenção ou tortura?


Para quem será a “redenção econômica” de Guarujá no caso de construírem uma ponte ligando Santos a essa cidade?


Quando a Prefeitura de Santos liberou o limite de andares para novos edifícios, torres cada vez mais altas apareceram. Foi como empresários da construção civil compensaram a escassez de terrenos: erguendo prédios altos para poderem fazer apartamentos amplos.


Lugar amplo numa cidade com pouca área disponível é um luxo. Ter luxo custa caro. Assim ficaram os imóveis. E vendedores de produtos e serviços, percebendo que há quem possa pagar por isso, aumentam o preço daquilo que vendem.


Não é novidade. Basta ver o quanto cresceu a população de cidades da Baixada Santista que ainda não foram tão afetadas pela expansão imobiliária: são os ‘expulsos’ de Santos ou os que vieram de fora e perceberam que não têm como viver no território santista.


Guarujá é muito diferente de Santos. Parcialmente isolada da região pelo mar, vive e sofre das temporadas de verão. No resto do ano, volta a ser apenas o município com maior número de favelados da Baixada — 60% de seus mais de 300 mil cidadãos.


A ponte representa a perspectiva de mais facilidade de acesso a Guarujá. Com ela, de novos moradores (70% dos imóveis são de veraneio). O mercado imobiliário, o comércio e o Poder Público (este, em decorrência dos impostos) esfregam as mãos.


Mas o que será dos atuais moradores, em média mais pobres que os santistas, caso a valorização dos imóveis seja parecida com a que se deu em Santos?


O que será dos habitantes de cidades vizinhas, como Bertioga e Cubatão, caso os guarujaenses pobres (e os nem tanto) se vejam obrigados a deixar a cidade?


E, com a ponte, o que poderá acontecer nas cidades do outro lado do Atlântico que já têm recebido mais gente, como Praia Grande?


Sem planejamento metropolitano, a "redenção econômica" de Guarujá tende a prejudicar a região inteira. As nove cidades deveriam participar do debate sobre essa ligação seca — mesmo que duvidem da hipótese de o projeto se concretizar.

Nenhum comentário: