– Não. Quem vai lá é outro repórter. Já decidi. Ponto final!
– Palhaço! Vai se ferrar! Editor de m...
Dois dias depois, estaria na cidade outro ilustre visitante: o presidente da República. O editor, ainda ressentido com a postura do repórter, avisou à Redação que ele também não iria fazer essa reportagem.
Será que o dono do jornal mandaria o editor-chefe embora?
O mundo já sabe: o presidente do Santos Futebol Clube, Luís Álvaro Ribeiro, dispensou o técnico Dorival Júnior, que não escalaria Neymar nesta noite, contra o Corinthians, ainda como punição ao jogador por seu mau comportamento.
E eu já sei: Neymar é um homem (tem 18 anos; pode dirigir, votar e ir pra cadeia, entre tantas coisas reservadas aos maiores de idade) privilegiado pela Natureza e pelo Santos Futebol Clube. Ganha num mês o mesmo salário que o meu – em 20 anos. O valor de seu passe alcançou a estratosfera. Virou Joia – um apelido besta; não imagino alguém conversando com ele e lhe dizendo, com naturalidade: “E aí, Joia? Tudo Neymar?” (não resisti, desculpem).
E faz o que quer. Vai daí que, quando o treinador quis botá-lo no devido lugar, a diretoria do clube tomou uma atitude de apoio... ao jogador. Que continuará fazendo o que quer.
Pelé, com todos os seus defeitos fora de campo, é sinceramente reconhecido como Rei. Aos 17 anos, ajudou a Seleção Brasileira a ganhar sua primeira Copa, em 1958. Onze anos depois, fazia seu milésimo gol. Naquela época, ganhava em salários e luvas, em valores atualizados, R$ 12 mil mensais. Quarenta vezes menos do que Neymar.
“Pelé, que era o Pelé, nunca reclamou!”, comparavam, nesta semana, contemporâneos do Atleta do Século 20.
Mano Menezes que se cuide. Afinal, estava esperando a decisão de Dorival para saber se o escalaria para os próximos compromissos da Seleção.
E Neymar? Moralmente, é um pobre coitado. Se não tomar jeito na carreira que ainda deverá ter, lamentará o dia em que Dorival foi embora.
3 comentários:
De fato, Neymar já é homem feito. Pode até ser menino da vila, com as travessuras peculiares, sem grandes consequências. Mas que as molecagens ficassem restritas ao drible na hora certa e com o objetivo: o gol. Caberia ao técnico a decisão de colocá-lo em campo nesta quarta, diante do Corinthians. A própria diretoria era quem dava o aval à palavra final do treinador, fosse qual fosse. Não foi bem assim. A impressão, superficialmente falando, é de que Neymar, suas habilidades e seus tostões a mais gritaram mais alto pelos lados da Vila Belmiro.
Claro, não sejamos ingênuos: o Neymar faz falta ao time. Mas não é esta a discussão. Ficou a imagem de que o garoto, do alto de suas cifras e destrezas, tudo pode.
Ele mesmo, é bom que se diga, é o menos culpado neste imbróglio de gente bem mais velha e não tão ingênua assim quando o assunto são dividendos do show business.
Mas Neymar, cristão novo no cenário pop, é referência para milhares de jovens. Respaldados em seus tutores profissionais, fez o que fez... arrependeu-se e pediu desculpas... isso é nobre.
Mas seus "anjos da guarda" trataram de reverter o cenário, descortinando a frágil barreira dos limites. "Então, se ele pode tudo, eu também posso! Afinal, tenho 18 anos e sei que estou certo".
Uma pena! O futebol guarda semelhanças com situações do cotidiano, como escrevia Nelson Rodrigues. Mas nem sempre há vitórias a se comemorar. Muitas vezes, o gol é contra.
Eu sou uma ignorante em futebol, mas sei um pouco sobre relações humanas e principalmente sobre os preceitos de respeito e hierarquia que aprendemos ao praticar um esporte. Fiquei chocada em saber que o punido foi o técnico. Bom texto Rafa, abraços.
Fiquei envergonhada e decepcionada com a decisão da diretoria do Santos. Se Neymar faz bem a meu time, Dorival Júnior também fez. Afinal, ajudou o Peixe a conquistar mais dois títulos: no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil. Além disso, é sereno, discreto e talentoso.
Acho que esse episódio vai ficar para sempre, e de forma negativa, no currículo de Neymar.
Aguardo ansiosa a convocação de jogadores que o Mano Menezes divulgará hoje. Desta vez, ele deveria ficar fora de lista.
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