segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Eles estão à venda

          

Confrontada com um pouquinho só de informação honesta, a marquetagem descarada do horário eleitoral obrigatório e nos debates (?) entre os candidatos à Presidência vai por água abaixo. Neste formato desgastado, a propaganda política e os encontros entre os presidenciáveis são perda de tempo. Não vejo mais. É bobagem, não adianta nada.

Mas a população (especialmente a “mais esclarecida”, o que é impressionante) vai votar direcionada pelos esforços dos marqueteiros dos dois concorrentes, daqui a dez dias mais três. Não escrevi “13” porque alguém me acusaria de ser “dilmista”, o que é mentira. E os “serristas” são ferozes, não admitem o contraditório. Ainda mais agora, depois dos “45” do segundo tempo.

Ué, mas o que sai na “grande imprensa” não influencia o eleitor? Sim, mas essa mídia de longo alcance não está fazendo jornalismo. Não ajuda honestamente na escolha. Com exceções difíceis de encontrar, o que ela faz é repercutir falsas polêmicas, como essa lenga-lenga do aborto e para quem Marina Silva (PV) daria apoio e faria transferir os milhões de votos que recebeu no primeiro turno.

Começando pela última: até a grama dos jardins da orla de Santos sabia que Marina ficaria em cima do muro, no dilema entre Dilma Rousseff e José Serra. Deixou o Ministério do Meio Ambiente, o PT e não gosta da ex-ministra. E o DEM, aliado do PSDB, está recheado de ruralistas e pecuaristas que veem a Natureza como um estorvo para seus negócios.

E o aborto está sendo encarado como um problema religioso, e não de saúde pública. Isso é um absurdo. Os que querem governar o Brasil brigam pelo voto pisando na “liberdade de consciência e de crença” garantida pela Constituição Federal (promulgada “sob a proteção de Deus”, é verdade; eu tenho fé, mas quem não tem também é cidadão. Como é ridículo ter que dizer o óbvio!).

Essas coisas todas nos levam ao princípio de tudo: que governo e qual forma de governar Dilma e Serra representam? Que papel cada um teve nas duas últimas administrações, de oito anos cada uma? O que cada um fez quando teve chance de agir? Que compromissos assumiram e cumpriram na vida pública? Como agiram e reagiram diante de situações complicadas? Quem são?

Porque, afinal, graças ao artificialismo com que absorveram tanta marquetagem, já sabemos o que eles não são: bons atores. Compare as pessoas, não os produtos à venda.

2 comentários:

Andrea Rifer disse...

É Rafa, o mais incrível é que esse discurso vazio, sem troca de ideias, sem plano claro de governo acaba conquistando votos. Principalmente da classe média. Essa fatia da população, que infelizmente só sabe olhar para o seu próprio umbigo (muitas vezes sendo mais egoísta que a elite) e a imprensa, que está prestando um desserviço, têm sido os maiores antônimos da cidadania. E com essa postura estão transformando o discurso vazio em verdade absoluta. Viva a democracia!

Nando disse...

Dilma e Serra são retratos perfeitos de nossa Era, Rafa. Marionetes, descompromissados, vazios. Tal homem, tal Estado.