(Texto escrito por volta das 13 horas de quinta-feira, 4/11, no saguão de embarque do Aeroporto de Juazeiro do Norte, Ceará, à espera da chegada do voo 1811 da Gol com destino a Recife, Pernambuco. Ali, tomaria o avião rumo ao Aeroporto de Guarulhos, São Paulo)
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Estátua na Praça Padre Cícero |
Cícero Romão Batista. Morreu há 76 anos, mas quase tudo gira ao seu redor – e por causa dele – em Juazeiro do Norte, ao Sul do Ceará. Sim, ele, Padre Cícero (a palavra “padre” vai em maiúscula porque o título se incorporou à pessoa), nome de praça, rua, memorial, pousada. É como se fosse o Divino em forma de gente. Uma lenda.
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Placa na base de imagem do
religioso na Capela do Socorro |
Não há como ignorar que se está em Juazeiro. Nossa Senhora das Dores é a padroeira da cidade e denomina a igreja matriz, erguida em 1875. Mas a frequência de fiéis, ou nem tanto, é maior à Capela do Socorro, que fica mais ou menos a uma quadra da Praça (adivinhe) Padre Cícero e se situa ao lado do cemitério onde estão seus restos mortais.
Mesmo com medo de ofender a religiosidade dessas pessoas de fé, fica a impressão de que Deus é relegado a segundo plano diante da figura onipresente de “meu Padim Ciço”, como se referiu a ele uma vendedora de chaveiros ao me mostrar um exemplar com a imagem do padre, político e protetor, falecido antes de ela nascer.
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Nem telefonia escapa |
Distante da área central de Juazeiro, no alto de um morro, talvez o ponto mais elevado do município, avista-se uma estátua branca, que reproduz Padre Cícero. Diante da Capela do Socorro, com destaque, uma imagem posta numa redoma, sobre um pedestal em que há uma placa indicando quando morreu e onde foram postos seus despojos. Na Praça Padre Cícero, claro, uma estátua do homem, com cor de bronze. Nas barracas de artesanato, santinhos, relógios, chaveiros, canetas, bolsas, camisetas, é Padre Cícero de todas as formas, para todos os gostos. Há orelhões (telefones públicos) que, na verdade, são ‘chapelões’ – seu formato reproduz o chapéu usado pelo religioso.
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A Rua Padre Cícero vai até
a Praça... Padre Cícero |
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Vi tudo isso em uma hora e meia de passeio por Juazeiro, mais ou menos das 7 horas às 8h30; sem Horário de Verão, o sol aparece antes do que se vê nas regiões onde os relógios estão adiantados. E o nordestino, de modo geral, acorda cedo. Daí porque, já nos primeiros minutos de minha caminhada, reparei em tanta gente na rua.
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Memorial fica diante da
Capela do Socorro |
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Mas, para terminar, outra coisa que percebi foi a presença de pessoas mais velhas nos instantes de louvor a Padre Cícero. Pode ter sido só impressão, mas é como ocorre na passagem de uma geração a outra. À medida que o tempo avança, lendas se perdem. Têm menos seguidores. Afinal, ele morreu em 1934, aos 90 anos, e restam cada vez menos pessoas que o viram vivo e em atividade. Nem todo jovem quer saber do antigo.
Acredito que as romarias deverão ficar mais reduzidas pouco a pouco. Em Santos, é assim com a padroeira, Nossa Senhora do Monte Serrat. Os pensadores de Juazeiro do Norte têm de estudar alternativas ao turismo religioso, movido a Padre Cícero. Mesmo que leve tempo, não custa estudar saídas com antecedência. A Baixada Santista que o diga – e, para ilustrar esse “que o diga”, diga você, com o exemplo que quiser.
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