sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Meu filho é teu. Cuida dele, tá?

As coisas se encaixam.

A presidente Dilma Rousseff (PT) fez seu primeiro pronunciamento em rede nacional de televisão ontem à noite. Eu não o vi, mas minha mulher, sim. E me disse ter ouvido declarações de que o Governo quer melhorar a Educação no País, mas é preciso que os pais cobrem das escolas qualidade de ensino e acompanhem os estudos de seus filhos.

É a tal história: se a gente não toma uma atitude, não adianta esperar que a oportunidade caia do céu.

Só que é muito confortável esperar que os outros façam alguma coisa. Há umas duas semanas, fui à escola de minha filha para a primeira reunião de pais deste ano. A sequência de diálogos, verdadeira (e que não teria acontecido se cada família fizesse sua parte), comprova o que estou afirmando.

A diretora do colégio: "É preciso que haja pontualidade. Os pais devem trazer os filhos menores no horário. É questão de respeito ao outro".

Uma das mães: "Diretora, quando trazemos nossos filhos, há filas duplas de carros diante da escola. Por que não contratam uma pessoa para pegar as crianças na porta dos carros? Aí, iriam entrar mais rápido".

(Ou seja, em vez de acordar cinco minutos mais cedo, vamos acionar um empregado. Eu fumo, outro recolhe as cinzas e um terceiro as põe no lixo.)

Outra mãe: "Ah, diretora, há meninas que trazem maquiagem para o recreio, e as nossas filhas também acabam usando. O colégio não tem como verificar isso?"

A diretora responde: "Mãe, é preciso que os pais digam aos filhos o que podem ou não usar, se dá alergia ou não. São os pais que devem ver o que as crianças levam para a escola".

Outra recomendação da diretora: "Os pais também precisam saber que sapatos com salto, chinelos e roupas coloridas não fazem parte do uniforme. Se a roupa da escola é azul, comprida e se devem usar tênis, o aluno não pode chegar com uma camisa vermelha, barriga de fora e chinelos".

E uma mãe alega: "Mas, então, a escola tem que mandar esse aluno de volta para casa!"

E a diretora conclui: "Não temos como mandar de volta uma criança de 8 anos que vem de salto. Ela vai entrar e, todas as vezes que vier assim, chamaremos os pais aqui. Eles têm de saber como os filhos se vestem para ir à escola ANTES de ir para a escola".

Outro exemplo, mais abrangente: nesta semana, foi revelado que a Secretaria Municipal de Segurança de Santos proibia jovens participantes do programa Guardião-Cidadão de engravidar. E o fazia por escrito, com assinatura das moças: a participante que ficasse grávida sabia com antecedência que seria dispensada imediatamente.

É uma questão de consciência que a família deve transmitir aos filhos e, neste caso, às filhas. Mas sobraram comentários de que a Prefeitura, afinal, estava certa! Senão, "nasce uma criança numa família sem estrutura, ela cresce e vira marginal".

As pessoas deixam suas responsabilidades de lado na esperança de que as instituições cumpram o papel que as famílias abandonaram. É cômodo. Mas é uma ameaça à democracia, na medida em que se entrega de bandeja ao Estado o direito de regular o que devemos fazer de nossas vidas.

E há quem ache isso muito bom. 1964 vive.

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