segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Recordação do futuro (sic)

Eu costumo me identificar com matérias sobre transporte coletivo. Quando as faço -- e as mais recentes delas saíram ontem e hoje, em 'A Tribuna' --, mais vontade tenho de estudar o assunto, pois acho que o tema poderia ser abordado com mais frequência. O aparente desprezo com que se trata o serviço deveria ser motivo de protestos públicos na região.

Mas não é. Talvez porque os mais novos (e eu ainda me incluo entre eles, apesar dos cabelos meio brancos) não tenham conhecido um sistema cuja desativação completará 40 anos neste domingo, em Santos: o transporte por bondes elétricos.

Foto 1: por volta de 1955, pistas separadas
Esse modelo tinha características que, hoje em dia, estamos discutindo como introduzir na Baixada: em algumas vias, a linha férrea era separada das pistas para os demais veículos, num trânsito sem conflitos (veja as fotos números 1 e 2); pessoas de classes mais abastadas usavam o transporte coletivo (foto 3); e quem não podia pagar a tarifa cheia, da qual não sei o preço, tinha direito a meia passagem (apesar de ser um reboque, ou seja, um vagão acoplado à parte traseira do bonde).

Foto 2: bondes à esquerda, em 1970
O jornalista Carlos Pimentel Mendes, editor do portal Novo Milênio (de onde as fotos foram extraídas), escreveu sobre esse último item, a 'tarifa social':

Sim, já existiu uma época em que era considerado chique passear de bonde, ao ponto de o fato merecer nota nas colunas sociais. Passear no veículo principal, bem entendido, já que nos reboques (surgidos a partir de 1931, com a introdução de bondes elétricos com motores mais potentes) viajava a classe menos favorecida, pagando meia passagem...

Foto 3: sem data, um "acontecimento social"
Em 1982, 11 anos depois da extinção dos bondes e à mercê de um serviço de ônibus deficiente, o jornalista e historiador Paulo Matos (1952-2010) enviou esta carta para 'A Tribuna':


Um detalhe: Matos foi o último brasileiro indiciado, no finalzinho da ditadura militar (1964-1985), pela Lei de Segurança Nacional. Em 1984, ele foi detido e transformado em alvo de inquérito por protestar contra o aumento da passagem de ônibus.

E, ontem à noite, o colega jornalista Luiz Fernando Yamashiro (hoje residente em Natal, RN, cidade que tem duas pontes sobre um mesmo rio, enquanto a Santos-Guarujá não passa de maquete desatualizada), me mandou o link para a reportagem abaixo, da TV Record:


Qualquer diferença entre o antigo e o novo é mera displicência.

Nenhum comentário: