quarta-feira, 27 de abril de 2011

Baixada Santista, a piscina

Já encarado como futuro prefeito de Santos (por mais que alguns políticos do PMDB do prefeito João Paulo Tavares Papa esperneiem, dizendo que não é bem assim, vão protestar e terão de engoli-los), o tucano Paulo Alexandre Barbosa foi nomeado para outra secretaria de Estado. 

A partir de hoje, ocupa a pasta de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Até ontem, o deputado estadual era titular de Desenvolvimento Social. Barbosa torna-se o número um da secretaria com o terceiro maior orçamento e 20 vezes mais dinheiro para investir do que no antigo cargo.

Repito o que disse em dezembro, quando critiquei Barbosa e os deputados Bruno Covas (estadual) e Márcio França (federal) por assumir cargos diferentes daqueles para os quais foram eleitos: apesar de todos serem representantes da Baixada Santista, não significa, necessariamente, que a região ganhará muito com isso. Os três são secretários de Estado e, portanto, do Estado inteiro, não de uma localidade específica.

Mas, como há quem creia que a indicação desses deputados para o primeiro escalão do Governo paulista é sinal de mais prestígio para a Baixada, então não poderá mais haver desculpas para o atraso tecnológico e científico da região frente aos desafios que lhe são impostos pelas circunstâncias.

Vem o pré-sal por aí: temos poucos profissionais preparados; o porto vai crescer: a qualificação de pessoal é deficiente; há um projeto para um Parque Tecnológico em Santos, do qual nada mais se ouve; conforme dados oficiais, a Baixada é a primeira das 15 regiões administrativas do Estado em riqueza, mas só ganha do Vale do Ribeira em escolaridade.

O problema é que só nos oferecem promessas. Não vão adiante porque as ações são muito breves, e os ocupantes do cargo, extremamente transitórios. Dois dos últimos secretários de Desenvolvimento que tivemos foram Geraldo Alckmin (ex-governador que voltou ao cargo neste ano) e Alberto Goldman (vice que assumiu o governo quando José Serra tentou, fracassadamente, a Presidência da República).

Agora, até as escadarias do Palácio José Bonifácio sabem que Paulo Alexandre Barbosa é fortíssimo candidato à Prefeitura. A se respeitar à risca o roteiro que já vem sendo escrito, serão pisadas por ele por pelo menos quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2013.

Se há prestígio nisto tudo, é só para os eventuais ocupantes dos bons cargos existentes no Estado. Nem ponho em dúvida sua competência -- inclusive para pular desse trampolim. Mas, afinal, no fim das contas, o que ganharemos?

6 comentários:

Flavio Filho disse...

Agradeça ao povo santista, só pedimos o mínimo, que é seu dever, ajude-nos a evoluir. Belo texto Rafa. Abs.

Nando disse...

Rafa, deputados representam apenas interesses próprios. É assim porque o eleitor pensa assim: vota em alguém que teoricamente beneficiaria sua cidade, sua região. Olho no umbigo. Eventuais benesses regionais viabilizadas por estes parlamentares visam somente angariar mais votos.
Esta é a razão de não haver partidos no país.

Anônimo disse...

Apenas duas coisas: 1) O Pré-Sal é o maior engodo propagandístico da História - e só não vê quem não quer; ou que não se informa!

2) Nunca, Nunca mesmo, o Brasil sairá do buraco que se meteu, enquanto não parar de olhar para o alto dos prédios públicos a esperar que os problemas sejam resolvidos por gente muito, mas muito pior do que todos nós.

Somos o país mais burro e assassino do mundo (também é fácil informar-se e comparar estatísticas). Querem impingir essa ladaínha estúpida de que seremos ricos num futuro que nunca chega ou chegará, mas sequer pretendemos nos tornar antes civilizados.

Há uma diferença entre educação e ensino. Quem não sabe diferenciar os dois conceitos, deve, pelo bem público (e próprio) calar-se. Mas a liberdade de expressão subentende um salvo conduto para falar, falar, falar... embora Deus nos tenha feito com apenas uma boca; e duas grandes orelhas.

Ricardo Santana disse...

Rafael, você pergunta o que ganhamos com isso...respondo, nada, absolutamente nada! - Achava que o Paulo era um pouquinho só diferente do resto dos nossos políticos, mas, vejo que estava equivocado - ele, assim como a maioria dessa classe só pensa em si próprio e se esquece do povo que votou nele, fico bem à vontade para dizer isto, pois eu votei no Paulo justamente por achar que ele era um "pouquinho" diferente do resto, mas, vejo que estava errado. Moro em São Vicente e o que a Sabesp tem feito com a cidade é digno de dar dó – a implantação do sistema de esgoto é excelente, mas, os prejuízos que ela tem deixado com ruas esburacadas é uma vergonha. Moro no Jóquei Clube e a situação em que se encontram as ruas é vergonhosa e infelizmente não temos a quem recorrer, pois os vereadores são uma piada e os “deputados”... a os deputados não estão nem aí, estão pensando no próximo cargo que irão assumir. Desculpe o desabafo, infelizmente não temos voz e também não temos a quem recorrer.

Rafael Motta disse...

Mas, Anônimo, se todos ficássemos apenas a ouvir, sob o pressuposto de que temos uma só boca e duas orelhas, teríamos duas orelhas inúteis, pois ninguém diria nada...

Anônimo disse...

Ora, antigamente calavam-se quem nada tinha a dizer. Hoje, as pessoas se acham no direito de emitir opiniões, esquecendo-se que também é direito não querer ouví-las.

Porém, o mais incrível é ninguém conseguir pensar sem ser a partir da relação sujeito-objeto, isto é, aquele que analisa a questão sempre se põe fora dela, como se este não estivesse também no meio do problema; como se não fosse também parte dele.

Não, não! O Brasil tornou-se um país imoral, e este é o seu principal problema. Todos, ao mesmo tempo em que se acovardam perante a uma autoridadezinha, acreditam portar um direito sacrossanto de sair com dedo em riste, a apontar aos outros as próprias falhas. Projeção, diria o dr. Freud. E coletiva, pois somos todos vis.

O cerne da questão, porém, é que não há - e nunca haverá - moralidade pública sem a moralidade privada. Porém, tornamo-nos um povo infame, mesquinho e acovardado, que prefere ficar implorando o remédio dos seus males aos mais indignos da nação. Ficamos a olhar para o alto dos prédios públicos; a esperar que caia dos céus a solução dos seus problemas.

Mas não passam de ilusões. Basta informa-se para saber que o Brasil não se tornará rico com o pré-sal, que se um dia for extraído, só se tornará comercialmente viável em, no mínimo, quinze longos anos.

Mas pensando bem, é esquizofrenia sonhar com riquezas tapando os olhos para os 50 mil homicídios anuais (que maquiados, todos sabemos, na verdade devem chegar aos 100 mil). Tapa-se também os olhos para o fato das crianças saírem analfabetas das escolas, como reflexo dos seus professores. E quem, além de falar, pretende assumir a responsabilidade, seja de defender-se, seja de educar os próprios filhos? Não, não, a responsabilidade é do Estado, dos órgãos públicos, dos políticos... não percebem que, assim, penhoram as próprias vidas, a própria liberdade?

Mas se assim o fazem é porque acham-se inferiores. Olham para uma autoridade e se vêem anões. Olham para um ladrão e se sentem impotentes; olham para os filhos e se sentem incapacitados a ensinar-lhes o que quer que seja.

Só há uma saída: purgar nossos pecados. E seria um bom começo se confessássemos que somos incapazes; encarar a realidade, conhecer a extensão da nossa ignorância, poderia nos fazer recuperar nossa autonomia. A partir daí, saberemos o que podemos ou não fazer - sem ter de consultar manuais ou aderir a ideologias que sequer entendemos.

Assim, talvez, daria-se a nossa verdadeira independência.