Passados dez dias da votação favorável às contas do ex-prefeito Beto Mansur (PP) na Câmara de Santos, não se sabe o que o PT de Santos pretende: mostrar com clareza que realmente faz oposição ao grupo político instalado há 16 anos no Palácio José Bonifácio ou tirar da UTI o moribundo senso crítico em relação ao governo municipal.
Esse traço oposicionista está quase morrendo, mesmo, à medida que a executiva municipal petista admite a possibilidade de uma composição -- já no primeiro turno -- com o PMDB do prefeito João Paulo Papa, a quem se opõe até agora, ao menos no plenário do Legislativo. Isso apenas mostra que a legenda está rachada, algo que se pode considerar normal num partido em luta pela sobrevivência.
É o que tem acontecido com o PSDB em nível nacional. Entre os tucanos, falta entendimento e sobram acusações mútuas. O PT de Santos, porém, tem uma vantagem: dispõe de propostas para a minoria necessitada da população santista. Não seriam tão difíceis de concretizar, visto o orçamento bilionário do município -- apesar do qual a administração atual não consegue resolver problemas básicos de saúde e educação.
Mas, voltando ao PT, a indignação dos vereadores Cassandra Nunes e Reinaldo Martins quanto à presença, na Câmara, do suplente Arnaldo Corrêa Neto deverá se multiplicar nesta quinta-feira (16/2). O presidente do Diretório Municipal da sigla, Cecílio Antônio da Rocha Melo, soltou este comunicado:
"O Partido dos Trabalhadores de Santos convida todos os filiados e principalmente seus pré-candidatos a vereador à Câmara Municipal de Santos para participarem, nesta quinta-feira (16 de fevereiro), a partir das 17h55, na sessão da Câmara Municipal, todos vestindo uma camiseta na cor vermelha para demonstrar solidariedade à bancada do Partido dos Trabalhadores, por causa de uma manobra sórdida que envolveu a aprovação das contas do ex-prefeito Beto Mansur, usando, inclusive, o PT".
Note a gravíssima acusação contida na última parte do comunicado: a existência de uma "manobra sórdida" na qual se usou, "inclusive, o PT".
Ela tem a ver com a manifestação divulgada, ainda na semana passada, pelo ex-deputado estadual petista Fausto Figueira, sobre aquela sessão favorável a Mansur:
"A história do PT de Santos sofreu um verdadeiro estupro (...). Por que a primeira suplente ou o segundo se furtaram a substituí-lo? A possibilidade de um grande arranjo (...) exige das lideranças históricas do PT santista, como as deputadas Telma de Souza e Maria Lúcia Prandi, uma manifestação contundente de condenação à traição e de apoio a uma investigação implacável".
Por que, explicitamente, Telma (óbvia prefeiturável) e Prandi (de quem se cogita uma candidatura a Câmara Municipal neste ano)? É uma confissão de que são líderes natas ou a suposição de algo terrível e difícil de provar?
Questões internas à parte, a manifestação programada pelo PT local para a sessão de quinta-feira será inócua. A Mesa Diretora da Câmara já decidiu que cabe a Arnaldo Corrêa Neto permanecer no lugar do afastado Adilson Júnior (PT) até que sua licença termine. Ele já disse que não voltará antes dos 15 dias de licença médica.
Porém, a sessão desta quinta deverá ser a última com a presença do suplente, pois a próxima segunda-feira é de Carnaval. A pretensão de dificultar os trabalhos da Câmara na sessão de quinta, com um protesto para o qual o PT convidou "principalmente seus pré-candidatos a vereador", será antecipar a folia.
Beto Mansur, que mereceu a oposição petista a seu governo, deve estar rindo disso tudo.
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