sábado, 18 de fevereiro de 2012

Profissão "de risco"

Gosto de automobilismo. Tenho lido que o piloto Rubens Barrichello, sem chances na Fórmula 1 após 19 temporadas disputadas, está com um pé na Indy. Mas enfrenta oposição da esposa: correr em circuitos ovais é mais arriscado do que em pistas comuns, porque é 'pé embaixo' o tempo todo.

Dezenas de pilotos já morreram em ação. Mas, no fundo, todos estamos sujeitos a riscos em qualquer profissão. Que o digam os Repórteres sem Fronteiras, todos os anos às voltas com o assassinato de jornalistas em quaisquer cantos do mundo -- no Brasil, inclusive.

Não se discute que algumas profissões são potencialmente mais perigosas do que outras: funcionários em plataformas de petróleo situadas em alto-mar podem ser vítimas de incêndios e afundar a qualquer momento; estivadores vivem muito perto de ser atingidos por sacas que despencam de guindastes e cair no porão de um navio.

Mas sou jornalista. E o risco está onde menos se imagina. Sabe qual o único lugar de onde fui expulso por tentar fazer uma reportagem? Uma igreja!

Há anos, o templo da Renascer (que era frequentada pelo jogador de futebol Kaká), em São Paulo, desabou. Fui pautado para procurar pelos responsáveis do templo em Santos (um antigo cinema, no José Menino), a fim de saber se tudo estava em ordem. Não tive tempo de dizer nada:

-- Eu não quero você aqui! Caia fora! Fora! -- gritava alguém que me parecia ser o pastor, me agarrando pelo braço e me empurrando até o lado de fora do portão.

Antes disso, em maio de 2006, ocorreram os ataques atribuídos ao PCC, facção criminosa que atua de dentro dos presídios paulistas. Num fim de tarde, o comando regional da Polícia Militar concederia uma entrevista coletiva. Seria na sede da PM, teoricamente um dos lugares mais perigosos para se estar, tamanha a ousadia dos bandidos.

Só que o repórter dificilmente se detém para pensar em certos perigos. Fui até lá, ora. Como estava fazendo hora extra, avisei minha esposa de que iria demorar porque estava indo à polícia. Pelo telefone, ela entrou em pânico. Paciência: eu tinha de ir. É meu trabalho.

Já tive revólver apontado em minha direção dentro de favela, tive de explicar a traficantes que não estava fazendo reportagem sobre drogas em meio a palafitas (e era verdade), subi e desci morros sob risco de deslizamento, contrariei orientação política de veículos de comunicação onde trabalhei -- e este último item é um dos mais arriscados à sobrevivência profissional no Jornalismo.

Acho que o risco profissional é maior para quem não está apto a exercer certas tarefas. Talvez eu arrebentasse um carro de corrida na primeira curva. Talvez Barrichello pusesse o lead no último parágrafo. Treinando, a gente se acerta. É que pode não dar tempo.

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