quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Paulo Freitas e a onda

Um mês atrás, cuidando da pauta do dia no jornal, recebi um telefonema. Era um assessor da Secretaria de Estado da Segurança Pública, que estava nervoso porque uma reportagem havia citado a “onda de violência” na Baixada Santista.

A matéria relatava um debate, na Universidade Federal Paulista (Unifesp), motivado pelo assassinato do auxiliar de limpeza Ricardo Ferreira Gama, supostamente por policiais. “Pô, cara, que onda? Os homicídios estão caindo. Só porque mataram um cara não quer dizer que tem onda”.

Não contestei o assessor por dois motivos. Primeiro, porque fiquei perplexo com o simplismo de se relacionar “violência” somente a assassinatos – estupros, sequestros, assaltos, por exemplo, também são atos violentos. Depois, porque um não convenceria o outro, e eu tinha mais o que fazer.

A realidade, afinal, falaria por si, infelizmente. E gritou no último fim de semana, quando alguém próximo de muitos de nós jornalistas, colega de trabalho por anos, foi tragado pela “onda”: Paulo Jorge de Freitas, 57 anos, praticamente metade deles em “A Tribuna”, onde convivemos.

Paulo desapareceu no sábado (28), em Itanhaém, onde sua família tinha uma chácara. Três dias depois, acharam seu carro na vizinha Mongaguá. Hoje (3/10), a Polícia Civil trabalha com as hipóteses de homicídio (aquele que está “caindo”) ou de latrocínio (este, em alta nas estatísticas).

O Litoral Sul da Baixada Santista, onde está Itanhaém, já foi o sonho de muitos à beira da aposentadoria, por ser sinônimo de lugar belo e tranquilo, para descanso. Mas aquele Litoral Sul acabou. Virou refúgio de bandidos de todo grau de periculosidade. Quem é honesto está refém.

Ladrões são muito mais rápidos do que a polícia, numericamente defasada. O prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, vive pedindo mais PMs na Cidade. Ele é filiado ao PSDB, que administra o Estado há 18 anos. Em política, quando um aliado adverte, é porque a situação beira o desespero.

Desde já, meu desprezo e minha dó a quem olhar a tragédia de Paulo Freitas como caso isolado. Esses surfam outra onda, pela qual foram engolidos: a versão oficial de que se está vencendo a guerra. Paulo e família sabem que não. Discursos pomposos e vazios não suprirão sua ausência.

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