terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Daquilo que somos. E esquecemos

Sobre a invasão da casa centenária, tombada historicamente, na esquina das ruas Sete de Setembro e da Constituição, na Vila Nova, em Santos:

Lamentável? Claro! É patrimônio cultural, com um grande acervo de livros e imagens e detalhes arquitetônicos de tempos áureos da cidade.

Mas igualmente lastimáveis, no meu ponto de vista, são os xingamentos de tantos comentaristas de internet aos "ignorantes" que entraram lá.

Como imaginar que catadores de papel, para os quais coisa sem uso nem cuidado é reaproveitável e se troca por comida, pensem em arte e cultura?

Como acreditar que coisas vendáveis por 15 centavos o quilo dão a um sem-teto a possibilidade de habitar algum lugar nesta Santos tão cara?

Como conceber que alguém que 'vende o almoço para pagar a janta' tenha, algum dia, assistido a uma aula de Artes -- se é que foi à escola?

As nossas bases de estudo, trabalho e vida familiar foram outras, bem outras, do que as de quem vira o lixo de madrugada e dorme de dia numa carroça.

Não dá para culpar os "ignorantes" pela invasão de um bem particular. Se o Município tem olhos para ele, que dele cuide, dentro de certo limite.

Esse limite é evitar a confusão entre público e privado. Como querer que a Guarda Municipal vigie um imóvel vazio cujo dono está longe da cidade.

Chamar pessoas sem-teto (e sem-tantas-outras-coisas-que-temos), de forma pejorativa, de "coitadinhas" é atestado de outro tipo de ignorância.

A ignorância, no sentido de desconhecimento, de nós que tanto nos preocupamos com coisas e esquecemos as pessoas. Nossos iguais.

Aliás, parece que se lembraram daquele casarão e do que havia nele porque o invadiram. Devemos gratidão aos "ignorantes" pela lembrança.

Um comentário:

Nando disse...

Patriam Charitatem. Gracinha, imagine se não fôssemos...