Estamos em uma região
metropolitana, mas não somos metropolitanos. "Ué,
mas eu moro em uma cidade, estudo em outra e trabalho numa terceira",
você pode contrapor. Mas a marca das eleições para deputado neste
ano, a exemplo das anteriores e com raras exceções, é a de
cidadãos que se mostram como "o candidato da cidade tal"
-- não o da Baixada Santista.
Leia os lambe-lambes
nos muros. Os cavaletes que infestam as calçadas. Aquilo que eram
árvores e foram transformadas, impiedosamente, em panfletos
coloridos com cheiro forte de produto químico. A propaganda de
concorrentes regionais não é regional. É municipal. O candidato,
sem perceber (será?), reduz a si mesmo por julgar que o bairrismo o
levará a São Paulo ou Brasília.
O maior absurdo que vi
foi o de um concorrente que, em seu material de campanha, se
apresenta como defensor de um grande conjunto habitacional existente
em Santos. Dou uma pista aos que me conhecem há muito tempo: morei
20 anos lá. Só ouvi falar nesse cidadão quando ele decidiu entrar
na política. Bem-sucedido em nível local (o cidadão), voltei a não
ouvir falar mais nele.
Deixar de lado as
questões metropolitanas e se restringir a alguns quarteirões de seu
reduto eleitoral (isto é, onde pensa que será bem votado) parece
uma atitude tomada de propósito por boa parte dos concorrentes. É
como se não quisessem mexer no que importa: em nível estadual,
cobrar o Palácio dos Bandeirantes pelo que deixa de fazer pela
região; em federal, ir atrás da União.
Sobram problemas que
exigem solução conjunta na Baixada e demandam união dos prefeitos.
De todo o Estado, temos o maior índice de mortalidade infantil; a
menor expectativa de vida; o mais baixo nível de escolaridade; o
maior déficit habitacional; somos 4% da população de São Paulo,
mas não recebemos orçamento estadual para a Saúde na mesma
proporção.
Todas essas coisas se
percebem na 'hora da verdade'. Quando alguém precisa, dá de cara
com um pronto-socorro público lotado. Ou não consegue morar na
cidade onde trabalha porque os imóveis são cada vez mais caros. Ou
não conquista a vaga de emprego porque não alcançou a qualificação
necessária no ensino público. Ou mora longe e depende de transporte
coletivo crítico.
E não há um mísero
candidato que apareça, para valer, com propostas objetivas para a
vida prática: só abstrações. Não me importa o candidato a
deputado federal que quer uma auditoria da dívida externa, nem me
interessa o postulante a deputado estadual que promete fiscalizar o
que o Estado faz com os impostos que pago -- afinal, é uma obrigação
que o cargo exige.
O conceito de 'cidadão
metropolitano' é um bom exemplo daquilo que existe na prática, mas
não na teoria. Isso mesmo: circulamos pela região (a prática), mas
quase nunca nos preocupamos em eleger nomes que nos façam pensar na
necessidade de entender a Baixada como um todo (a teoria). Nem todas
as pessoas têm visão ampla das coisas. Enxergam só o que é
evidente.
E, se os candidatos
igualmente não veem nada além das evidências, o que têm de
diferente de nós? Como vão ajudar a transformar esta gente em
moradores não de Santos, de Bertioga ou Cubatão, mas da Baixada? É
um discurso que deveria partir de quem, em tese, deveria entender das
coisas que precisam ser melhoradas.
O negócio é que, de modo geral, há entre nós aventureiros e amadores cuja preocupação está em tirar proveito da política. Alguns se elegem -- acontece. E ficamos diante de uma metropolização pela qual tanto se lutou desde o fim da década de 1950, virou lei em 1996, mas chega abandonada à maioridade. Uma adulta que não sabe, nem pode, se virar sozinha. Adote-a você também.
O negócio é que, de modo geral, há entre nós aventureiros e amadores cuja preocupação está em tirar proveito da política. Alguns se elegem -- acontece. E ficamos diante de uma metropolização pela qual tanto se lutou desde o fim da década de 1950, virou lei em 1996, mas chega abandonada à maioridade. Uma adulta que não sabe, nem pode, se virar sozinha. Adote-a você também.
Um comentário:
Rafael,
Compartilhei seu texto com vários grupos ligados ás cidades da região, à Baixada. Esta postura de políticos, de dividir votos, de ser obtuso mostra que os partidos, longe de discutir a Metrópole preferem pedaços de votos, aqui e ali.
São nove cidades, Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá,São Vicente, Santos, Praia Grande, Peruíbe.
E faltam pautas para cobrir o assunto (já deixando como sugestão). Por exemplo, quanto soma hoje o Fundo Metropolitano? Todos nós moradores e pagadores de impostos de cada uma das cidades paga para a formação dele. E as pautas do CONDESB? E as comissões, ou melhor, Câmaras Temáticas de assuntos prioritários?
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