sexta-feira, 12 de junho de 2015

Um almirante, um navio e um deputado

Morto ontem (11), aos 96 anos, no Rio de Janeiro, o almirante Júlio de Sá Bierrenbach era capitão dos Portos do Estado de São Paulo. Assumiu duas semanas após o Golpe de 1964 e, por seu cargo, era responsável pelo navio-prisão 'Raul Soares', onde trabalhadores, sindicalistas e quaisquer outros acusados de comunismo foram mantidos durante pouco mais de meio ano.

Certa vez, um juiz mandou soltar 16 presos desse navio. Treze deles foram levados de barco à superfície. Bierrenbach disse a eles que estavam soltos. Quinze minutos depois, mandou prendê-los de novo: alegou que todos eram investigados, desta vez, em um inquérito conduzido por ele próprio.

O então deputado estadual Esmeraldo Tarquínio se pronunciou em plenário sobre esse episódio. Indagou se o Brasil começava a viver o "supermilitarismo", pois um militar se sobrepunha a uma decisão judicial. O capitão dos Portos respondeu, pela Imprensa e de forma indireta, que críticos como Tarquínio queriam continuar sua "obra de corrupção", como supostamente antes do Golpe.

Como resposta final, o deputado, indignado com uma inédita acusação de corrupção contra si (pois era honesto), deu dois recados ao militar: "aos sapateiros, os sapatos", para afirmar que somente o eleitor poderia avaliá-lo; e o último, mais duro, expressando que "a honestidade é que legitima a farda, e não o contrário".

Eleito prefeito de Santos em 1968, Tarquínio foi impedido pela ditadura de tomar posse e teve os direitos políticos suspensos. A acusação e a resposta ao então capitão dos Portos estão registradas na ata da reunião do Conselho de Segurança Nacional na qual foi cassado, no ano seguinte.

E há saudosos da ditadura, que nunca será devidamente esmiuçada e condenada porque seus personagens morrem de velhice e porque poucos dão a mínima para o que seja, por achar que "não é comigo".

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