Morto ontem (11), aos
96 anos, no Rio de Janeiro, o almirante Júlio de Sá Bierrenbach era
capitão dos Portos do Estado de São Paulo. Assumiu duas semanas
após o Golpe de 1964 e, por seu cargo, era responsável pelo
navio-prisão 'Raul Soares', onde trabalhadores, sindicalistas e
quaisquer outros acusados de comunismo foram mantidos durante pouco
mais de meio ano.
Certa vez, um juiz
mandou soltar 16 presos desse navio. Treze deles foram levados de
barco à superfície. Bierrenbach disse a eles que estavam soltos.
Quinze minutos depois, mandou prendê-los de novo: alegou que todos
eram investigados, desta vez, em um inquérito conduzido por ele
próprio.
O então deputado
estadual Esmeraldo Tarquínio se pronunciou em plenário sobre esse
episódio. Indagou se o Brasil começava a viver o
"supermilitarismo", pois um militar se sobrepunha a uma
decisão judicial. O capitão dos Portos respondeu, pela Imprensa e
de forma indireta, que críticos como Tarquínio queriam continuar
sua "obra de corrupção", como supostamente antes do
Golpe.
Como resposta final, o
deputado, indignado com uma inédita acusação de corrupção contra
si (pois era honesto), deu dois recados ao militar: "aos
sapateiros, os sapatos", para afirmar que somente o eleitor
poderia avaliá-lo; e o último, mais duro, expressando que "a
honestidade é que legitima a farda, e não o contrário".
Eleito prefeito de
Santos em 1968, Tarquínio foi impedido pela ditadura de tomar posse
e teve os direitos políticos suspensos. A acusação e a resposta ao
então capitão dos Portos estão registradas na ata da reunião do
Conselho de Segurança Nacional na qual foi cassado, no ano seguinte.
E há saudosos da
ditadura, que nunca será devidamente esmiuçada e condenada porque
seus personagens morrem de velhice e porque poucos dão a mínima
para o que seja, por achar que "não é comigo".
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aqui.
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