terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A morte paulatina de um regime condenado

O desaparecimento do coronel reformado do Exército Erasmo Dias (foto), na noite desta segunda-feira (4/1), equivale a mais um tumor que mata, aos poucos, a ditadura militar sob a qual viveu o País a partir de 1964. Porque, mesmo tendo acabado há quase 25 anos, o regime ainda existe: está na memória de muitos dos que passaram intensamente por ele, cada qual de seu lado da História.

Erasmo Dias foi secretário estadual de Segurança Pública entre 1974 e 1979. Naquela época, havia o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no qual presos acusados de subversão eram duramente interrogados e torturados.

A denúncia dessas práticas transformou dois deputados santistas — o estadual Nelson Fabiano e o federal Marcelo Gato — nos últimos políticos cassados pela ditadura. Perderam os mandatos em 5 de janeiro de 1976. Coincidência: também para um 5 de janeiro, está marcado o enterro do corpo do que era tido como todo-poderoso da segurança paulista.

Mas o regime militar continua a perecer aos poucos. A morte dos personagens daquela época torna mais difícil a possibilidade de condenação, em vida, dos que feriram, abalaram mentalmente, mutilaram e mataram homens e mulheres sob o pretexto da defesa da soberania nacional contra a “ameaça comunista”.

E possíveis punições a colaboradores da ditadura têm sido postergadas. Inclusive pelo atual governo, em que há figuras para as quais a Lei da Anistia a perseguidos políticos também se aplicaria aos antigos defensores do regime militar. A propósito, numa entrevista de 2004, Erasmo Dias chegou a sugerir que deveria ser indenizado por isso.

Não se trata apenas de compensar financeiramente ou mandar para a prisão quem quer que seja. Definir oficialmente quem estava do lado certo ou errado é um compromisso histórico. Assim já vêm fazendo nações vizinhas, como Argentina e Chile, que desse modo preparam as próximas gerações para que não voltem a perder sua liberdade.

Um comentário:

Flávia Saad disse...

Os personagens se vão, mas as feridas permanecem.
Belo texto, como sempre.
abs
Flávia