domingo, 2 de maio de 2010

Até, Juliana

Tentei dizer isto de outras formas, mas o jeito é ser direito: foi-se embora, nesta manhã, aos 35 anos, a colega jornalista Juliana Augusto. Suspeita-se de dengue hemorrágica. Seu corpo está sendo velado na Santa Casa de Santos (velório 4) e será cremado na Memorial Necrópole Ecumênica, no Marapé, às 8 horas desta segunda-feira (3/5).

Esbarramos várias vezes em coberturas, sobretudo na época em que eu trabalhava no 'Diário do Litoral' e ela, no 'Imprensa Livre', no Litoral Norte.

A mais marcante foi na Prefeitura de Guarujá, acho que em 2004, numa das inúmeras apresentações de propostas para o aeroporto na Base Aérea de Santos. Foi uma entrevista coletiva no gabinete do então prefeito, Maurici Mariano.

E me marcou (e a ela também, sem dúvida) porque o Mariano, de repente, a expulsou da sala. Motivo: "Você trabalha num jornal que me critica. Não falo com você. Saia daqui".

Ela saiu. Não chegou a ouvir quando perguntei ao prefeito: "Por que razão o sr. expulsou uma jornalista da coletiva?". E a resposta, mais ampliada: "Porque ela trabalha num jornal que me faz oposição. Não posso aceitar alguém que tem uma postura dessas na minha casa".

"Minha casa"... Só um coronel político para incluir entre suas coisas o que ao povo pertence.

Hoje, nem Mariano nem Juliana estão nesta casa, a Terra, razão da última postagem em seu blog. Partiram. Pelo saldo de suas vidas, tenho para mim que não irão se encontrar — a não ser que a Divina Misericórdia tenha sido muito benevolente com o ex-prefeito.

6 comentários:

Andrea Rifer disse...

Que droga de doença, Rafael. Como pode um mosquito tirar tantas vidas? Como o homem tão cheio de si, tão rei dessa imensa selva chamada planeta ainda é mais fraco que um inseto? Ou mudamos o comportamento ou vamos perder essa guerra.
Tb trabalhei no Imprensa Livre, mas em período diferente do dela. Não cheguei a conhece-la. Mesmo assim, sinto muito pela perda.

Bárbara disse...

Rafael, quem conheceu a Jú, certamente sente muito a sua partida tão de repente, perdendo a luta para apenas um mosquito como bem disse a Andrea.
Parabéns por suas colocações sobre o dia da coletiva no gabinete de Maurici Mariano. Comentário mais justo, impossível.

um abraço,

Bárbara

Patrícia Fagueiro disse...

Oi, Rafa
Não conheci a Juliana, mas o nome dela não me soa estranho. Sinto pela perda. Essa história da coletiva do Maurici é famosa. parabéns pelas colocações.
Um beijo.

Simone Queirós disse...

É Rafa, é muito irônico que justamente uma amiga nossa de profissão, pessoa tão cheia de garra, trabalhadora, honesta e idealista, tenha protagonizado o que considero um dos piores exemplos da qualidade da saúde na região! Em plena epidemia, "médicos" que ignoram sintomas básicos. Não é só lamentar a perda, é lamentar uma vida que se foi por muito, muito pouco. Fica o gostinho de quero mais. E muito bem colocado sobre o Maurici, também lembrei da situação.

Ana Paula disse...

Essa era e é minha amiga Juliana. Tenho certeza que lá no outro plano ela deve estar fazendo alguma revolução para melhorar algo. Ela sempre lutou por aquilo que acreditava. Sempre quis o melhor para todos. Uma pessoa ímpar que dava aos seus pares muita alegria. A perda nunca será reparada, mas quem sabe sirva de alerta para o descaso que existe neste país com tudo e todo.

Marcílio Ignácio disse...

Conheci Juliana quando ainda era aluna de jornalismo na extinta Facos-UniSantos ,ela ia no meu setor a Biblioteca com um sorriso marroto era uma menina muito legal e cheia de sonhos e ideais de jornalismo e compromisso com a mudança e transformação das pessoas e seu meio.Quando ví a foto dela da televisão que morreu de Dengue fiquei triste e chorei muito.Juliana que esteja onde merece e a luta continua.Paz onde estiver.