quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Isto é luta de classes

Pequeno texto veiculado hoje (6/10) na 'Folha Online':

“Custarão R$ 5.000 por casal os disputados convites para o evento Jantar da Terra.

“Quem adquirir o convite poderá degustar um jantar elaborado por Alex Atala com a participação de mais dez chefs estrangeiros.

“A noite especial faz parte do evento Semana Mesa SP.

“O banquete será realizado em São Paulo no próximo 25”.


E um trecho do artigo da psicanalista Maria Rita Kehl, publicado no último sábado (2/10) no jornal 'O Estado de S. Paulo':

“Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa (Família), somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da 'esmolinha' é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

“O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos”.

Não dá para engolir a seco tamanho disparate social.

Tão inaceitável que o 'Estadão' proibiu Maria Rita Kehl de escrever sobre política.

Em tempo: como me alertaram dois leitores, a psicanalista não falará mais sobre política nem de qualquer outro tema no jornal. Foi demitida. Curioso é que o jornal se diz sob censura há mais de um ano. Curiosas, as pessoas. 

2 comentários:

Nando disse...

Proibiu não, Rafa. Demitiu. Ainda bem que o Estadão é um dos nossos bastiões na luta pela liberdade de imprensa...

Rafael Motta disse...

É verdade, Nando. Vi a confirmação hoje à tarde, em entrevista que o Bob Fernandes (Terra Magazine) fez com a psicanalista. Logo que der, corrigirei o texto (a conexão à internet do jornal bloqueia o acesso ao Blogger). Abraço.