quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Por fora, bela viola

(A abertura deste texto vai parecer chamada de seriado norte-americano. E o texto, mesmo, uma crônica à moda de Vicente Cascione. Mas, afinal, lá vai.)

Cheryl é uma mulher de 49 anos. Uma ex-obesa. Fez força, emagreceu 36 quilos. Mas a pele, esticada no tempo em que engordou, ganhou rugas. E ela quer arranjar um namorado. Para isso, vai passar por uma transformação.

Na verdade, já passou. Não vi o resultado. Se você tiver tempo e paciência -- pois me faltam os dois --, o vídeo tem 21 minutos e pode ser assistido aqui.

Cheryl é um exemplo para outras mulheres. E aí está o problema.

Problema porque, se temos o direito de fazer do corpo o que queremos, na ilusão de que ficaremos melhor de um jeito ou de outro, nos esquecemos do emagrecimento do espírito, das flexões da alma, da musculatura do caráter, da força da compreensão, da plástica do companheirismo.

Assim é cada vez mais intensamente. Mas, se a beleza exterior é fundamental para ter alguém e alguém nos quer só por essa beleza exterior que temos, somos dois iludidos. E, depois, desiludidos. 

Porque "a graça é enganadora e a beleza é passageira" (*).

Porque, se o que há em mim é feiura, ela irá se sobrepor a minha casca. É natural das pessoas: o mal é manchete, a dor é mais forte, a tristeza é mais duradoura. O belo nos conforta. Costumamos, porém, sofrer mais do que viver por dar mais valor ao prejuízo que nos causam do que ao apoio que nos dão -- sobretudo quando pensamos que o bem é obrigação alheia, mais do que nossa.

Cheryl passou por uma transformação -- externa. Deve, sim, namorar de novo. Afinal, até apareceu na TV, ganhou fama internacional.

Que seja uma mulher internamente bonita. Pois, se conseguir namorado e não der certo por problemas que vêm de dentro, voltará ao ponto de partida.

Não há pior solidão do que a que não compreendemos. Ou que nos recusamos a entender.

(*) A frase está na Bíblia. É do Antigo Testamento (Provérbios, capítulo 31, versículo 30. Não custa lembrar que, naquela época, os homens (e as mulheres) eram mais machistas

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