"O estado é crítico".
Só pela frase que abre a matéria, o colega Victor Miranda merece cumprimentos. Eis a situação do Hospital São José, a Santa Casa de São Vicente, conforme relatado hoje em 'A Tribuna'.
O relato seria preciso por completo se ele escrevesse "estado" com caixa alta (letra maiúscula, como num nome próprio). Estado, no sentido de governos municipal, estadual e federal, que não enviam ao São José o dinheiro necessário a sua sobrevivência.
Por causa disso, há dois dias não há mais atividade nos 30 leitos de clínica médica antes mantidos mediante convênio com o Governo Estadual; há 14 meses, a Prefeitura não repassa o que deve ao hospital; e o teto de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) segue insuficiente.
Entre maio e dezembro de 1982, a Santa Casa de Santos, primeiro hospital da América Latina e até hoje principal destino dos doentes da Baixada Santista, ficou de portas fechadas. Quando reabriu, não foi por decisão governamental: foi porque a Santa Casa tinha um imóvel para vender em Cubatão -- o antigo Hospital Modelo, adquirido pela Prefeitura dessa cidade por 500 milhões de cruzeiros. Com o dinheiro, quitou sua dívida com seus 1.291 funcionários, na época, que estavam sem receber salários havia sete meses.
Mas como se chegou a esse resultado? Porque, naqueles últimos anos da ditadura militar, em que ninguém podia protestar por nada sem levar 'borrachada' da polícia e de outras forças armadas, mobilizaram-se cerca de 6 mil pessoas numa passeata entre a Santa Casa e a Prefeitura, para cobrar a intervenção do Município na crise. Em menos de um mês, a Santa Casa vendeu seu prédio em Cubatão.
Aquele havia sido o maior protesto desde 19 de março de 1964, quando acontecera a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade. Nela, parte do povo santista, manobrado por interesses menores, pedia a saída de João Goulart da Presidência da República. Dias depois, começariam 21 anos de ditadura.
Onde se veem, hoje em dia e neste mundo de internet, Facebook, Orkut, Twitter, iPads e iMinhaMãe da vida, 6 mil pessoas reunidas para exigir alguma coisa a quem de direito?
É por isso que o São José, o Hospital Irmã Dulce (em Praia Grande, que teve 50 leitos temporariamente desativados porque o Estado atrasou suas obrigações), o Hospital Santo Amaro (em Guarujá, de intermináveis desgraças) e o sistema público de saúde, em geral, estão nesse estado.
"O estado é crítico".
7 comentários:
Ñ seja pessimista, Rafa. Neste exato momento tem muito mais que 6 mil pessoas engajadas em assistir o casamento do príncipe William.
Essa história parece um disco de vinil velho e arranhado, que não consegue pular a faixa seguinte. Volta e meia o Estado e a União atrasam repasses da saúde, que por sinal têm valores mais do que defasados. E os responsáveis não sofrem qualquer tipo de punição por causa disso. É triste o quadro, colega
O São José assim, o Irmã Dulce, em Praia Grande, com outros 50 leitos parados por falta de verba, também... e viva o Pré-sal!!
Inda dizem que vivemos no primeiro mundo, que não passa de um sinônimo de Baixada Santista; que a região é privilegiada pelo Estado etc...O problema é que por muitos anos e ainda hoje vende-se a imagem de oásis por aqui. Mesmo um favelado acha que ser favelado aqui é melhor do que ser em Diadema. A tal classe média, baixa, bem baixa, sequer merece comentário. . .
descaso, falta de vergonha na cara, pensando que o povo faz parte de uma maioria que acredita nos contos de fada, falta sim falta mais eh um pouco mais de amor proprio por parte deste povo que vive constantemente humilhado, a impressão eh que saõ os chamados burrinhos de presepio, pelo amor de DEUS quando, vamos no todo acordar e resolver de uma vez por todas dizer ,nao estamos aguentando mais tanta safadeza. chega, isto pode parecer um circo mais nao eh, pelo amor de DEUS acordem , basta, verbas para todas as canalhices existem mais para a saude , educação e segurança esta sempre faltando.
ALFREDO NETO, de......
me perdoem a expressão saco cheio com tudo isso.
Em março, ouvi de um morador de Cubatão, que esperava o início da visita aos pacientes da UTI do Hospital Ana Costa, em Santos: ''A gente anda pelas ruas de Santos e vê inúmeros arranha-céus sendo construídos, mas a quantidade de hospitais é a mesma. A Baixada Santista vai entrar em colapso, até mesmo para atender pacientes de convênios''
A análise da questão envolvendo o São José requer uma reflexão profunda e responsável porque os problemas em SV são mais amplos do que parecem.
Embora a Secretaria Municipal de Comunicação alardeie um crescimento econômico espantoso na última década, a arrecadação da Prefeitura é cronicamente insuficiente diante da demanda de uma população extremamente carente. A saber: milhares e milhares e milhares de imóveis do Município simplesmente não recolhem IPTU porque foram construídos em áreas ocupadas irregularmente, sobretudo nas décadas de 70 e 80. Regiões da Vila Margarida e da Cidade Náutica não contribuem com um só centavo de imposto predial, sem contar vários bairros da Área Continental que também não o fazem, embora sejam regiões com demandas sociais enormes.
Esse descalabro reflete a ação de governantes irresponsáveis que patrocinaram e/ou fecharam os olhos para levas de invasores.
E a Prefeitura não cobra impostos desse povo por que? Ora, vereadores não deixam e prefeitos se acomodam, tudo em nome da reeleição.
Agora, como em raros momentos de sua história, a "Célula Mater" tem representantes na Assembléia Legislativa e no Congresso Nacional que deveriam providenciar as tais verbas para sanar os problemas do São José. É bom não esquecer que os tais parlamentares calungas devem voltar às ruas da Cidade no ano que vem para pedir votos. Um deles, aliás, se gabava de ser campeão nacional de votos...
Outra: qual é mesmo a profissão do governador rereeleito? É médico, não é? Deve ter sido um médico ridículo porque, já em seu primeiro mandato, prometeu, prometeu, prometeu e nunca resolveu absolutamente nada nesse setor, basta lembrar que, se não fosse a então deputada federal Mariângela Duarte, até hoje o Hospital Regional de Itanhaém continuaria fechado, embora o sr. Alckmin tivesse dito, em campanha, que transformaria a unidade em braço do HGA a fim de desafogar os hospitais de Santos, SV, Cubatão, PG e Registro, no Vale do Ribeira. Porém, passados 16 anos de governos tucanos (sendo 6 do sr. Alckmin), todos esses hospitais continuam sobrecarregados e com o pires na mão, autênticos pacientes entre a vida e a morte.
Então, a culpa é generalizada: os governantes que são canalhas, o povo que os elege, o Ministério Público que não os acusa, a Justiça que não os faz cumprir a lei.
A Imprensa também tem a sua parcela de culpa porque muitas vezes se omite, deixa de opinar, de estimular o senso crítico na população, seja por interesse econômico ou por covardia.
Nilson Regalado
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