O mundo pega fogo por aqui e eu penso nas eleições deste domingo (20/11) na Espanha.
Só parei para tratar deste assunto porque, pela primeira vez em muitos anos, a direita reassumirá o poder por aquelas bandas. Os socialistas tendem a voltar para casa. Não conseguiram salvar o país das últimas crises internacionais (em 2008 e agora, ainda reflexo da anterior). Os espanhóis mudarão de lado.
E mudarão porque "direita" e "esquerda" pouco representam ao eleitorado hoje, mesmo nos países politicamente mais civilizados. "É a economia, estúpido!", disse Bill Clinton na campanha que o levou à Presidência dos Estados Unidos, no fim do século passado.
Como nada é absoluto, a 'verdade' de Clinton é parcial. No Brasil, sabe-se que a economia se estabilizou com o Plano Real, no governo Itamar Franco, sucedido no poder, em dois mandatos seguidos, por seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Mas não foi o suficiente. Uma 'charge' na 'Folha de S. Paulo', em meados dos anos 1990, traduziu isso mostrando um casal que comentava o fim de décadas de inflação monstruosa: "Puxa, querido, os preços continuam os mesmos". Ao que o marido respondeu: "É, e nós continuamos sem poder comprar".
Por isso, se passou longe da perfeição, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) não só cuidou da economia nacional em seus fundamentos. Tratou de ir além, melhorando a vida de cidadãos que nada tinham a perder, pois nada lhes havia sido garantido. A inflação ficou ainda mais baixa, e comprar se tornou possível. Daí porque, na comparação entre PSDB x PT, os petistas venceram o desempate e se mantiveram na Presidência.
Aí está a diferença entre quem se alinha mais à direita (a preocupação econômica) do que à esquerda (também com agenda econômica, mantendo vestígios de atitudes sociais). Não é mais como antes, mas ainda se percebe.
Na Espanha, a esquerda já tomou as tais medidas de austeridade recomendadas pelos 'mestres' da economia mundial: congelou pensões, cortou vencimentos do funcionalismo, aumentou a idade mínima para a aposentadoria, tudo sob o argumento de salvar uma economia em estado crítico.
Não 'colou'. E o povo espanhol, em sua maioria, dará à direita a chance de melhorar as coisas. Arrisco dizer que a situação deles é duplamente pior do que a brasileira: acreditam que os direitistas acharão um caminho, mas se esquecem que eles darão ainda menos importância a questões sociais. Aqui, do contrário, a esquerda sucedeu a direita; governou-se mais para as pessoas.
O noticiário econômico e a voz que se dá às agências de classificação de risco está confundindo a visão do europeu, que poderá terminar de pires na mão -- como aconteceu no Brasil na década de 1990, quando se engoliram secamente as erradas orientações de quem nos emprestava dinheiro a juros altos.
Um comentário:
Rafa, a direita e a esquerda dos ditos regimes democráticos pouco representam porque, de fato, pouco diferem nos governos. O que Lula fez ampliando postos de trabalho e distribuindo bolsas foi acalmar a galera, para evitar levantes como estamos vendo em vizinhos americanos, no Oriente Médio, no norte da África. No mais, seguiu o script do capital: desindustrialição e juros altos, que mantêm a dependência tecnológica e a sangria de dinheiro (o nosso) para o exterior em detrimento de uma política séria de educação, saúde, de inserção social de fato.
Nesta democracia moderna, o falso revezamento esquerda-direita nada tira do lugar. O espanhol já deve ter percebido isso, porque quase a metade deles nem se deu ao trabalho de votar. A outra metade vai perceber daqui a alguns meses, quando as medidas de "austeridade" se mostrarem sem efeito algum.
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