domingo, 8 de setembro de 2013

Para começar, foco. E cara limpa

A "força" da internet fez muitos acreditarem que este Sete de Setembro entraria para a história como o dia da maior mobilização popular já vista no país.

Nem de longe. Infelizmente? Não sei. É preciso ter uma causa, uma razão maior para protestar contra algo que se imagina estar errado. Querer tudo de uma vez nos leva a não ter nada, ou quase.

Em Santos, havia gente com cartazes de "Fora, Cabral" (?) ou contra os médicos cubanos (?!). E os problemas que realmente nos afetam?

País afora, alguns baderneiros mascarados depredaram lojas, bancos e concessionárias. Os bem-intencionados que foram às ruas ficaram em segundo plano, e nem todos puderam ouvir sua mensagem.

"Golpismo" da mídia? Não: burrice de arruaceiros irresponsáveis.

O tão falado 1968 -- claro, para quem já ouviu falar no que foi aquele ano --, no Brasil, num tempo sem computadores, não foi só poesia.

O Rio de Janeiro teve a "Passeata dos Cem Mil". A ditadura se aproximava do auge. Todos de cara limpa -- cidadãos comuns, artistas, pensadores.

Em 5 de julho daquele ano, Santos teve sua passeata contra a ditadura, organizada por estudantes do que hoje se chama Ensino Médio, para "sacudir as medalhas dos generais". Foi convocada em bilhetes datilografados e copiados em mimeógrafos.

Foram 300 manifestantes, entre estudantes, sindicalistas e políticos de oposição ao regime, como Esmeraldo Tarquínio, Gastone Righi, Oswaldo Justo e Nelson Antunes Mattos. Cinco mil ou seis mil assistiram a tudo.

Havia motivos claros: o sufocamento das liberdades e a "carestia" (portuários, a maior categoria profissional na cidade, naquela época, perdiam garantias trabalhistas e salários caíam). Ninguém quebrou nada.

Ainda assim, foi a gota d'água para o governo, que na mesma noite proibiu a realização de passeatas no Brasil inteiro.


Mas houve outro protesto em Santos, meses depois: elegeu-se prefeito Tarquínio -- negro, socialista e opositor do golpe (porém, cassado pelo regime antes da posse. A partir disso, tivemos prefeitos nomeados).

Depois daquilo, foram anos de eleições com vitória da oposição. E a luta por eleições diretas. Levou mais de 20 anos para voltarmos às urnas e escolhermos presidentes.

As coisas não ocorrem da noite para o dia. É preciso começar. Mas a mudança não virá amanhã nem com grupos pequenos e de face oculta impondo metas que nem sempre atingem a maioria.

Um comentário:

Sérgio de Barros disse...

Achei uma pena o esvaziamento de sentido dos protestos em relação a junho. Com o vandalismo imperando nas passeatas, consequentemente perdeu-se o apoio popular e as chances de pressionar o governo para conseguir qualquer coisa foi por água abaixo.