terça-feira, 22 de setembro de 2015

Os fatos e os cálculos

É obrigação do governo dar um jeito na economia. Foi eleito também para isso. Mas daí a dizer que esta é a pior crise já vivida no país vai uma distância enorme.

Se você pensa assim, pare de achar que toda ponderação é defesa do governo. Não tenho interesse nisso, mas me sinto no dever de consciência de alertar que a oposição nada tem de melhor a oferecer, lamentavelmente. E já foi governo, ostentando os dados apresentados do próximo parágrafo em diante.

Quando o Plano Real foi instituído, em julho de 1994, tinha como parâmetro a equiparação entre real e dólar, isto é, R$ 1 = US$ 1.

Neste instante, o dólar passa dos R$ 4. Nunca chegou a tanto, mas é preciso atentar que esse é o valor nominal -- isto é, aquilo que se lê, mas não, efetivamente, o que vale em qualquer época.

Como explicar a diferença? Corrigindo valores pela inflação. Aquele R$ 1 de julho de 1994, atualizado pelo índice oficial de inflação (o IPC-A, medido pelo IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), equivale a R$ 5,07 hoje. O motivo é a inflação acumulada entre julho daquele ano e agosto passado, data do último cálculo disponível de inflação.

Em 10 de outubro de 2002, o dólar bateu R$ 4 durante o dia. Também corrigido pelo IPC-A, significa que, se 10 de outubro de 2002 fosse agora, um dólar norte-americano custaria R$ 9,08.

Também para efeito comparativo, o salário mínimo nominal (repita-se: o valor que se lê, não o que efetivamente é hoje) era de R$ 200, correspondentes a R$ 492,18 de hoje. Entretanto, o mínimo nacional atual é de R$ 788. Vale mais em dólares e em reais, de ontem e de agora -- US$ 50 em outubro de 2002 e US$ 197 a R$ 4 nominais desta terça-feira, 22 de setembro de 2015.

Hoje, a preocupação do mercado, essa entidade invisível e de mãos pesadas e bolsos geralmente cheios, é com a possibilidade de alta dos juros nos Estados Unidos (pela primeira vez numa década, salvo engano; economia é problema mundial) e com possíveis vetos presidenciais a aumentos de gastos aprovados por deputados federais e senadores.

Outro elemento é o eventual rebaixamento do grau de investimento do Brasil por mais uma agência de classificação de risco de investimentos. Neste ano, de forma inédita desde 2008, esse grau foi perdido. Mas, de 1986 até lá, o país jamais o teve. Teve seu pior nível em 1998. Mas as agências erram, inclusive sob acusação de agir propositadamente.

Seja prudente. Economize o que puder. Pechinche. Pense em planos B, C, D. Mas exagerar a dimensão da crise só faz bem a quem tem muito dinheiro para especular e viver de juros -- que, quanto maiores, pior para você, irmão de vida assalariada e de muito trabalho até, talvez, o fim dos dias.

Se quer saber de onde eu tirei tudo o que escrevi lá em cima, aí vão links para conferir:

. Correção de valores pela inflação - https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/exibirFormCorrecaoValores.do?method=exibirFormCorrecaoValores&aba=1

. Evolução do salário mínimo - http://portal.mte.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=FF8080814373793B0143DEAE297C1D26

. Classificação de risco do Brasil, desde 1986 - http://www.stn.fazenda.gov.br/documents/10180/265991/Hist%C3%B3rico_classifica%C3%A7%C3%A3o_de_risco.Portugues.pdf/7246be9d-7885-4d10-a3ae-1da53cc1b606

. Para entender o que é grau de investimento e como uma grande agência prejudicou a economia internacional em 2008 - http://economia.uol.com.br/financas-pessoais/guias-financeiros/entenda-o-que-e-grau-de-investimento.htm

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